São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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MULHER

Sexo é instrumento de prazer, não de poder

da Reportagem Local

"Do ponto de vista da sexualidade, a mulher tem mais poder do que o homem." Quem garante é o psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Flávio Gikovate, que logo em seguida afirma: "Mas, se as garotas querem ter um crescimento pessoal legal, elas têm de parar de usar a sua sexualidade como arma ou como poder e transformá-la em instrumento de prazer".
E avisa: essa história não tem nada a ver com os papéis impostos pela sociedade para o homem e a mulher. Mas com uma diferença biológica no que se refere à natureza do despertar do desejo masculino e feminino. "Na adolescência, essa é a principal diferença entre as garotas e os garotos", diz Gikovate.
E, afinal, qual é essa diferença? "O homem tem um desejo visual despertado pela visão. A mulher não tem esse desejo, pelo menos não com a mesma intensidade, ela se excita ao se perceber desejada", explica o psicoterapeuta.
Na nossa espécie, a fêmea solta imagens, e o macho corre atrás. É nesse sentido que as palavras ativo e passivo são usadas. "Quem corre atrás é ativo e quem corre atrás não está por por cima, na verdade o menino sente-se por baixo porque está babando na menina e não sabe se ela vai recebê-lo", comenta.
É essa diferença que faz as meninas "poderosas". Ao mesmo tempo em que a garota começa a ganhar corpo de mulher com a puberdade, ela percebe o efeito que causa nos garotos, o olhar de desejo, e entende que sexo é poder.
Mas Gikovate avisa que existe um preconceito, um modelo antigo, por meio do qual é atribuído um valor ao sexo, que fica parecendo uma mercadoria, o preço sobe segundo a dificuldade da entrega. "O valor não está em dar, mas em não dar", exemplifica.
"Esse é o modelo antigo, as meninas hoje precisam ter consciência desse poder que elas têm como mulher para não usá-lo, porque o uso desse poder só atiça a guerra entre os sexos, o que não interessa para ninguém", diz.
Essas meninas muito provocativas, muito sensuais, do tipo galinha (veja quadro ao lado), estão bloqueando a sua sexualidade para usá-la apenas como instrumento de poder. "E, se o sexo entrar para a categoria de poder, deixará de ser prazer", sentencia.
Gikovate diz não acreditar em igualdade, a mulher tem de se encontrar com a sua natureza feminina e tomar a si própria como referência. "Não é bom se fiar tanto nesse poder sexual, apostar o futuro nisso, sem levar a sério o estudo, a formação cultural, porque na adolescência os homens jogam mesmo o tapete vermelho para mulher muito atraente, mas isso não dura para sempre". (FG)




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