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SEXO E SAÚDE
A polêmica sobre a maconha
JAIRO BOUER
"Tenho 20 anos e fumo maconha há três.
Minha família me pressiona. Trabalho,
estudo, pago a faculdade, nunca dei
problemas para minha mãe, cumpro
minhas obrigações e não faço mal a
ninguém. Sofro pressão, meu namoro está
indo para o buraco. Todos me acusam de
estar errado. Não tenho a menor vontade
de parar. O que faço?"
A maconha é uma dos temas que
mais gera discussão no universo
das drogas. Para os defensores, ela
teria um perfil baixo de risco e deveria ser legalizada. Para muitos especialistas, ela traz riscos e não deveria ter seu status
de droga ilícita modificado.
Contarei experiências que tive com pacientes
que entraram em contato com a maconha. Uma
estudante de medicina, que nunca havia experimentado a droga, fumou em uma viagem com
amigos. Teve uma espécie de surto paranóico e
saiu correndo, imaginando que um ser primitivo a
perseguia. Quase se jogou no mar.
Em outra oportunidade, um usuário eventual
que deve ter experimentado uma formulação mais
forte (com maior concentração de THC, princípio
ativo da maconha) teve uma crise de pânico, ataque de ansiedade e sensação de morte iminente.
Passou a ter então síndrome do pânico, com ataques repetidos, mesmo sem usar a droga.
Dois irmãos, estudantes de ensino médio, também usavam a droga com freqüência quase diária,
depois das aulas. O primeiro diminuiu o consumo
quando começou a namorar. O segundo aumentou o uso até passar a fumar quase o dia todo. Seu
desempenho caiu, foi reprovado e teve um quadro
paranóico, em que se via perseguido pela polícia.
O último exemplo vem de uma reunião a que assisti, para a elaboração de um programa de TV,
com um grupo de dependentes de maconha. Mesmo tendo parado há mais de um ano, vários ainda se queixavam de dificuldade de
concentração, lapsos de memória, lentidão de raciocínio, entre outras perdas.
É lógico que se pode argumentar que
problemas como os que foram citados
acontecem apenas em uma minoria dos
casos e que drogas lícitas como cigarro e
álcool podem provocar danos sociais
bem maiores do que a maconha.
Mas, do ponto de vista médico, algumas questões são claras. Maconha pode
sim causar dependência, é impossível
prever quem vai ter uma crise de pânico
ou um surto psicótico antes do contato
com a droga e mesmo usuários eventuais
podem mudar o padrão de consumo sem
perceber o que está acontecendo. São aspectos importantes para a gente pensar
antes de defender um lado ou outro.
E-mail: jbouer@uol.com.br
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