São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2005

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FAMÍLIA

Saiba por que muitas meninas vivem em pé de guerra com as mães durante a adolescência; se você vive brigando com a sua, conheça dicas para melhorar esse relacionamento

Mães na jogada

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Taty, 16, que gosta de ficar em casa ouvindo MPB, e a mãe, Graça, que curte dançar electro


NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Há seis meses, a vida da estudante de publicidade Renata (nome fictício), 21, ficou complicada. A relação dela com a mãe, mais ainda. Seus pais se separaram. A mãe da menina, que tem 50 anos, tomou gosto por tratamentos de rejuvenescimento e passou a comprar roupas nas mesmas lojas moderninhas que Renata adora. Também começou a querer sair com a estudante e as amigas para dançar. Mãe e filha passaram a viver em pé de guerra. "É muito estranho porque, ao mesmo tempo em que ela vai à loja que eu vou e quer sair com as minhas amigas, sempre fala mal do jeito como eu me visto e das coisas que eu faço", conta Renata.
As duas estão vivendo um conflito comum entre mães e filhas que estão na adolescência: a competição. É normal, segundo especialistas, que elas tenham problemas de relacionamento nessa fase.
Para o psiquiatra Alexandre Sadeh, do Hospital das Clínicas, esse é um período em que mãe e filha vivem uma disputa por espaço. "A competitividade faz parte do relacionamento entre mães e filhas e aumenta na adolescência", diz. Ele explica que isso tem um lado bom. "A competição é estimulante para o desenvolvimento. Precisamos nos diferenciar."
Vale lembrar que, quando somos jovens, começamos a gostar de bandas de rock de que nossos pais não gostam, a freqüentar baladas que têm a ver com a gente e a nos vestir de uma maneira que, muitas vezes, nossas mães não aprovam.
Renata sente dificuldade em se diferenciar. "Fico muito chateada quando a minha mãe me apresenta às amigas. Ela fala: "Somos iguais". Mas eu não quero ser igual a ela." A psicanalista Diana Corso, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, tem uma explicação para casos desse tipo. "Algumas mulheres que são muito narcisistas (demasiado preocupadas com a aparência e com elas mesmas) se sentem deprimidas quando as filhas crescem. Essa fase de apogeu das meninas coincide com a decadência física da mãe", diz.
"Faz parte do amor de mãe se comparar com as filhas", lembra Sadeh. Segundo ele, é por isso que as mães às vezes falam frases do estilo: "Você só namora homem sujinho, eu sempre soube escolher melhor". Isso, lembra o psiquiatra, não quer dizer que as mães não gostem das filhas.
Os conflitos podem ser amenizados. "É importante que as filhas saibam que, se a mãe faz críticas, pode ser um problema de relacionamento, e não um problema com elas. E que essa competição tende a diminuir conforme a menina cresce", diz. No caso da mãe, ele lembra que é importante que a filha "tenha seu próprio espaço".
A diretora de TV Graça Motta, mãe de Taty Motta, 16, percebeu isso depois de ter várias brigas com a filha. "Sei que somos diferentes. Ela gosta de ficar em casa ouvindo MPB enquanto eu vou dançar electro", diz. As duas descobriram uma maneira de se relacionar bem. "Tenho o maior orgulho da minha filha, mas não gosto que amigos meus a abordem ou façam comentários sobre a beleza dela", diz Graça.
A empresária Débora Suconic, 41, também vive ouvindo comentários sobre a beleza da filha, Maria Eugênia Suconic, 18. As duas são companheiras de balada, adoram música eletrônica e muitas vezes vão juntas para a noite. "Nos divertimos muito juntas. Nós duas gostamos da noite. Não ia deixar de freqüentar os lugares só porque a minha filha vai", diz Débora. Maria Eugênia, apesar de achar "que a mãe dança esquisito" sai com ela numa boa. As duas criaram até umas regras para a paquera. "Se a Maria Eugênia acha um menino bonito, ela já me avisa e sabe que eu jamais competiria com ela." Maria Eugênia só se irrita um pouco quando amigos fazem comentários sobre a "gostosura" da mãe. "Já fiquei chateada com coisas que escutei. Quando acho que estão tratando a minha mãe com falta de respeito, mando que parem."
O psiquiatra Alexandre Sadeh dá uma sugestão para mães e filhas em conflito. "A mãe pode até gostar do mesmo tipo de música que a filha, mas é importante que a menina tenha um lugar só dela. Se a mãe quiser ir a um lugar moderno, pode até pedir sugestão para a filha e ir a um lugar que ela não freqüenta", diz.

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