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FAMÍLIA
Saiba por que muitas meninas vivem em pé de guerra com as mães durante a adolescência; se você vive brigando com a sua, conheça dicas para melhorar esse relacionamento
Mães na jogada
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Taty, 16, que gosta de ficar em casa ouvindo MPB, e a mãe, Graça, que curte dançar electro |
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Há seis meses, a vida da estudante de
publicidade Renata (nome fictício),
21, ficou complicada. A relação dela
com a mãe, mais ainda. Seus pais se separaram. A mãe da menina, que tem 50 anos,
tomou gosto por tratamentos de rejuvenescimento e passou a comprar roupas nas
mesmas lojas moderninhas que Renata
adora. Também começou a querer sair
com a estudante e as amigas para dançar.
Mãe e filha passaram a viver em pé de guerra. "É muito estranho porque, ao mesmo
tempo em que ela vai à loja que eu vou e
quer sair com as minhas amigas, sempre
fala mal do jeito como eu me visto e das coisas que eu faço", conta Renata.
As duas estão vivendo um conflito comum entre mães e filhas que estão na adolescência: a competição. É normal, segundo
especialistas, que elas tenham problemas
de relacionamento nessa fase.
Para o psiquiatra Alexandre Sadeh, do
Hospital das Clínicas, esse é um período
em que mãe e filha vivem uma disputa por
espaço. "A competitividade faz parte do relacionamento entre mães e filhas e aumenta na adolescência", diz. Ele explica que isso
tem um lado bom. "A competição é estimulante para o desenvolvimento. Precisamos nos diferenciar."
Vale lembrar que, quando somos jovens,
começamos a gostar de bandas de rock de
que nossos pais não gostam, a freqüentar
baladas que têm a ver com a gente e a nos
vestir de uma maneira que, muitas vezes,
nossas mães não aprovam.
Renata sente dificuldade em se diferenciar. "Fico muito chateada quando a minha
mãe me apresenta às amigas. Ela fala: "Somos iguais". Mas eu não quero ser igual a
ela." A psicanalista Diana Corso, da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, tem
uma explicação para casos desse tipo. "Algumas mulheres que são muito narcisistas
(demasiado preocupadas com a aparência
e com elas mesmas) se sentem deprimidas
quando as filhas crescem. Essa fase de apogeu das meninas coincide com a decadência física da mãe", diz.
"Faz parte do amor de mãe se comparar
com as filhas", lembra Sadeh. Segundo ele,
é por isso que as mães às vezes falam frases
do estilo: "Você só namora homem sujinho, eu sempre soube escolher melhor". Isso, lembra o psiquiatra, não quer dizer que
as mães não gostem das filhas.
Os conflitos podem ser amenizados. "É
importante que as filhas saibam que, se a
mãe faz críticas, pode ser um problema de
relacionamento, e não um problema com
elas. E que essa competição tende a diminuir conforme a menina cresce", diz. No
caso da mãe, ele lembra que é importante
que a filha "tenha seu próprio espaço".
A diretora de TV Graça Motta, mãe de
Taty Motta, 16, percebeu isso depois de ter
várias brigas com a filha. "Sei que somos
diferentes. Ela gosta de ficar em casa ouvindo MPB enquanto eu vou dançar electro",
diz. As duas descobriram uma maneira de
se relacionar bem. "Tenho o maior orgulho
da minha filha, mas não gosto que amigos
meus a abordem ou façam comentários sobre a beleza dela", diz Graça.
A empresária Débora Suconic, 41, também vive ouvindo comentários sobre a beleza da filha, Maria Eugênia Suconic, 18. As
duas são companheiras de balada, adoram
música eletrônica e muitas vezes vão juntas
para a noite. "Nos divertimos muito juntas.
Nós duas gostamos da noite. Não ia deixar
de freqüentar os lugares só porque a minha
filha vai", diz Débora. Maria Eugênia, apesar de achar "que a mãe dança esquisito"
sai com ela numa boa. As duas criaram até
umas regras para a paquera. "Se a Maria
Eugênia acha um menino bonito, ela já me
avisa e sabe que eu jamais competiria com
ela." Maria Eugênia só se irrita um pouco
quando amigos fazem comentários sobre a
"gostosura" da mãe. "Já fiquei chateada
com coisas que escutei. Quando acho que
estão tratando a minha mãe com falta de
respeito, mando que parem."
O psiquiatra Alexandre Sadeh dá uma sugestão para mães e filhas em conflito. "A
mãe pode até gostar do mesmo tipo de música que a filha, mas é importante que a menina tenha um lugar só dela. Se a mãe quiser ir a um lugar moderno, pode até pedir sugestão para a filha e ir a um lugar que ela
não freqüenta", diz.
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