São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2004

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MÚSICA

Escoceses falam ao Folhateen sobre público jovem, o novo CD e o próximo Harry Potter

franz ferdinand contra as boy bands

SYLVIA COLOMBO
EM LONDRES

"Você vai me encontrar na matinê. O escuro da matinê é meu." A promessa estava escrita na letra de "The Dark of the Matinee", um dos hits do primeiro álbum da banda-sensação escocesa Franz Ferdinand. E no mês passado, em Glasgow, os rapazes finalmente a cumpriram ao pé da letra, fazendo um show-matinê só para menores de 18 anos.
Nada de álcool ou cigarro. E também nada de adultos, que só podiam entrar se estivessem acompanhados por um menor. "A matinê foi um dos nossos melhores shows até hoje. Nunca tínhamos tocado para uma platéia que soubesse de cor cada uma das letras", diz o vocalista Alex Kapranos.
A banda recebeu o Folhateen para um bate-papo no último dia 28, no backstage da Brixton Academy, lendária casa de shows de Londres, pouco antes de subir ao palco para um show na capital inglesa.
Na entrevista, os rapazes falaram dessa recente descoberta do público mais jovem, criticaram as boy bands fabricadas para fazer sucesso e adiantaram novidades sobre o aguardado segundo disco da banda, que começa a ser gravado em janeiro de 2005.
O Franz decidiu dedicar um show da turnê a menores por não concordar com a maneira com que as outras bandas tratam esse público. "Os músicos, quando ficam mais velhos, se esquecem da intensidade da relação que os adolescentes têm com a música, o quanto eles a levam a sério e como gostam e reparam em cada detalhe. Ao ver aqueles garotos cantando junto com a gente, eu lembrei de quando tinha 14 anos e sabia todas as letras dos discos das bandas de que gostava", disse Kapranos.
O vocalista lançou ataques aos artistas fabricados somente para agradar a crianças e adolescentes. "Queríamos chamar a atenção para o fato de que todas essas boy bands têm o costume de tentar moldar o público. Assim como um adulto força uma falsa linguagem jovial para se comunicar com os adolescentes. O curioso é que, nessa idade, a gente se sente mais adulto do que os adultos imaginam", disse.
Como exemplo, lembrou o protagonista do clássico romance "O Apanhador no Campo de Centeio", do americano J.D. Salinger. "Holden Caufield vê o mundo de uma maneira mais crítica do que os adultos, pois eles já haviam perdido essa percepção. Essas boy bands e grupos criados para fazer sucesso entre jovens e crianças querem impor um padrão que não tem nada a ver com a forma como eles pensam, primeiro pela linguagem que usam e depois pelo fato de não perceberem que os adolescentes muitas vezes são mais espertos do que eles."
Formada em 2001 em Glasgow, na Escócia, por Kapranos, Paul Thomson, Robert Hardy e Nicolas McCarthy, o Franz Ferdinand explodiu da noite para o dia, mais ou menos como os Strokes e os Libertines. O primeiro álbum da banda já vendeu mais de 2 milhões de cópias, com uma fórmula que passa tanto pelo som como pelo visual.
Isso porque a música deles é muito original, misturando discoteca com punk em canções pop curtas e diretas. O disco, que também se chama "Franz Ferdinand" (Trama) já coleciona alguns pequenos clássicos, como "This Fire" e "Take Me Out".
No estilo de cabelos e roupas, o Franz também inova, mas fazendo uso de algumas referências passadistas. Topetes, roupas escuras, gravatinhas e um ar de meninos bem-comportados. Só que, no palco, não param quietos e dançam de um jeito todo esquisito, meio militar, meio robótico.
No show que a reportagem viu, os rapazes mandaram algumas faixas novas, que devem entrar no próximo CD, "This Boy", "I'm Your Villain" e "Your Diary".
"Queremos um álbum que mantenha características do primeiro CD, mas que surpreenda. Serão canções pop com o mesmo estilo direto, mas vão causar surpresa os arranjos e a variedade das melodias. Não queremos parecer previsíveis", diz Kapranos.
Apaixonados por futebol, eles também resolveram encarar uma campanha pela classificação da seleção da Escócia para a Copa de 2006. Para isso, compuseram "Scotland". "A idéia não era fazer uma gravação comercial, uma dessas músicas de futebol que ninguém presta atenção na letra", diz Nicolas McCarthy.
E do futebol ao cinema, foi como num passe de mágica. Literalmente. O próximo episódio da série "Harry Potter" terá a banda -transformada num grupo de monstrinhos- tocando uma canção inédita feita especialmente para o filme.
Topa encarar mais essa matinê?


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