São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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QUADRINHOS

A câmera, a foice e o martelo

O espanhol Ángel de la Calle lança primeira biografia em quada fotógrafa e ativista poítica Tina Modotti

DA REPORTAGEM LOCAL

Ángel de la Calle passou um terço de sua vida procurando por Tina Modotti. O cartu nista espanhol de 45 anos vasculhou livros, o Museu de Arte Moderna, em NoYork, o Arquivo de Saexaminou os murais do mexicano Diego Rivera e, de quepesquisou pelo Instituto Gramsde Roma.
Não contente, resolveu seguir seus passos pelas ruas das cidades onde ela morou: Berlim, Cidade do México, Madri, Paris, Moscou, San Francisco e, claro, Astúrias, onde o espanhol de 45 anos mora e onde ela se instalou, durante a Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939.
Está tudo no livro "Modotti, uma Mulher do Século 20" (Conrad Editora, R$ 35), um policial minuem quadrinhos, parte autobiográfico, onde De La Calle busca por Tina, e essa busca acaba se diluindo na própria história da heroína italiana.
Ángel conversou por telefone com o Folhateen sobre os heróis, sobre os anos turbulentos em que Tina viveu e suas escolhas políticas, e da Espanha desenterrando seu passado.

 

Folha - Por que você lançou Modotti como uma heroína de quadrinhos?
De La Calle -
O progressismo no mundo se cria através de heróis que aparentemente não o são. Literários ou reais, como Tina. A história passou em cima deles mas eles deram seus exemplos. Acho que a novela gráfica encontra seu espaço não só entre adultos mas também entre adolescente, que são perspicazes e gostam de se aventurar.

Folha - E onde você a enquadra no mundo das HQs?
De la Calle -
Minha Tina está perto dos desvalidos de "Maus", de Art Spiegelman, de algumas histórias de Robert Crumb e, sobretudo, dos personagens de Hugo Pratt.

Folha - No livro vocês seguem caminhos paralelos. Em algum momento vocês se cruzam?
De la Calle -
Sim, na arte. Sou um cartunista que andava ganhando a vida com desenho gráfico, e ela havia parado de fotografar. Minha atividade cultural e política se resumia à organização da Semana Negra [evento cultural de manifestações esquerdistas em Gijón, na Espanha]. Ao fazer o livro da Tina eu me redescobri nos quadrinhos. Mas ela nunca deu esse passo de volta para a fotogra

Folha - Qual era o papel de Tina
De La Calle -
Modotti levava dinheiro do Socorro Vermelho para manter órfãos e comprar a saída da prisão de ativistas. Ela trabalhava para o Comintern, que seguia ordens do partido Comunista e entregava o dinheiro a Concha Madera, a tesoureira do Socorro Vermelho em Astúrias. Essa mulher foi para a prisão e perdeu seus filhos que foram adotados. Só agora se fala disso. Isso também é recuperar a memória.

Folha - Isso é parte de um balanço do passado que se tem feito na Espanha?
De La Calle -
Há um movimento de recuperar a identidade dos mortos da Guerra Civil. Os netos dos fuzilados pelos fascistas os estão tirando da tumbas. Porque seus pais tinham medo e não fizeram nada.
Por um lado a direita tenta reescrever a história, dizendo que nunca houve um golpe de Estado. Por outro lado a esquerda tenta recuperar a memória de campos de extermínio, dos trabalhos forçados e de crianças roubadas.


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