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FOLHATEEN EXPLICA
Morte de fiscais chama a atenção para abusos
Escravidão foi abolida, mas ainda é praticada no Brasil
Arquivo do Ministério do Trabalho
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Trabalhador encontrado em estado de semi-escravidão |
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA
Oficialmente abolida pela Lei
Áurea, em 1888, a escravidão
ainda é praticada nas regiões
mais remotas do Brasil rural.
Ao contrário do que ocorria no
período colonial, a escravidão
do século 21 não é baseada em
questões raciais -e pode até
ser considerada mais barata para os fazendeiros que a exploram atualmente.
Os escravos de hoje não precisam ser comprados pelos fazendeiros. São trabalhadores
rurais arregimentados em regiões miseráveis, geralmente
do Maranhão e do Piauí, sob a
promessa de trabalho temporário em fazendas do sul do Pará e do norte de Mato Grosso,
onde esse tipo de exploração é
mais comum.
Ao chegar ao local, os peões
descobrem que não há salário e
que vão trabalhar para saldar sua dívida com
o fazendeiro ou com seu "gato", o homem
que recruta a mão-de-obra.
O valor da dívida é estipulado pelo "gato" e
é supostamente baseado nos custos do transporte dos trabalhadores até a fazenda, da comida, da estadia e das ferramentas de trabalho -itens que o próprio empregador tem a
obrigação de fornecer.
Os peões acabam presos ao trabalho por
causa das dívidas e também pela distância entre as fazendas e as áreas urbanas mais próximas -além da presença, em alguns casos, de
seguranças armados.
O código penal chama essa prática de "redução a condição análoga à de escravo". Ela é caracterizada pela atuação dos capatazes
armados, pelo sistema de endividamento ou pela restrição do direito de ir e vir.
Os primeiros registros de escravidão nesses moldes surgiram
no Brasil no início da década de
70, no período de expansão da
fronteira agrícola na região amazônica. O trabalho escravo era facilitado pela ausência de fiscalização por parte das autoridades
públicas.
Atualmente, a CPT (Comissão
Pastoral da Terra), entidade ligada à Igreja Católica, acredita que
existam 25 mil pessoas submetidas ao trabalho escravo no Brasil.
No ano passado, a fiscalização do
Ministério do Trabalho libertou
4.932 trabalhadores em situação
análoga à escravidão.
No fim de janeiro, três auditores fiscais do Trabalho, ligados ao
departamento regional de Belo
Horizonte, e o motorista que os
acompanhava foram mortos na
rodovia vicinal MG-188, a 55 km
de Unaí (MG). Os quatro receberam tiros na cabeça. Uma força-tarefa está investigando o crime.
O objetivo dos fiscais assassinados era vistoriar as condições de trabalho, remuneração e
acomodação das pessoas arregimentadas para colher a safra de feijão na região. Apesar de
um dos fiscais ter recebido ameaças de morte,
o grupo não tinha proteção policial.
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