São Paulo, Segunda-feira, 09 de Agosto de 1999
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eles tecem o futuro
Jovens atuam no Ministério da Saúde

FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

"Que nossa saúde seja plena: mental, física e principalmente social." Esse é um dos muitos bordões que jovens baianos, entre 13 e 22 anos, defendem no documento "Juventude, Saúde e Políticas Públicas, Nossas Idéias", entregue aos representantes do Ministério da Saúde para ser discutido durante o 1º Fórum Juventude e Saúde, que acontece hoje e amanhã, em Brasília.
Usuários do serviço público de saúde e estudantes de escolas públicas, alguns desses jovens vão se reunir a outros, de 30 entidades e organizações de todo o país, para discutir temas como acidentes e uso de drogas, DST (doenças sexualmente transmissíveis) e Aids.
Mas o encontro não pára por aí, não. Durante o fórum, será formado o Comitê Técnico Assessor, por meio do qual os jovens passarão a participar oficial e regularmente da Asaj, Área de Saúde do Adolescente e do Jovem do Ministério da Saúde. É responsabilidade do comitê apontar subsídios e diretrizes para a formulação de políticas públicas voltadas para a saúde do adolescente.
Além disso, o resultado das discussões vai servir de base para um documento, elaborado pelos jovens, que será entregue à diretoria do Simpósio Internacional sobre Gravidez na Adolescência: a visão do parlamentar e do especialista.
O evento acontece de amanhã até sexta (13/8), também em Brasília, com realização do Ministério da Saúde (Área de Saúde do Adolescente e do Jovem e de Coordenação DST/Aids), da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), da OMS (Organização Mundial de Saúde), da Opas (Organização Pan-Americana de Sáude) e da Bancada Feminina do Congresso Nacional.
De acordo com o Ministério da Saúde, quase um terço da população brasileira é constituída por jovens entre 10 e 24 anos. Segundo as estimativas mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), eles são aproximadamente 50 milhões.
Uma das causas da realização do Simpósio Internacional é o alto número de casos registrados de gravidez na adolescência. Oficialmente, são 700 mil por ano, mas estima-se que, na verdade, os casos podem chegar à preocupante cifra de 1 milhão.

Da Bahia para o Brasil
No documento elaborado pelos jovens baianos, estão as suas propostas para mudar o atual quadro do serviço público de saúde, especialmente em relação ao atendimento ao adolescente.
"A saúde pública está cada vez mais precária, o certo é tirar um raio X, analisar, e, depois, dar para quem sabe engessar", diz Aline Soares dos Santos, 15, uma das autoras do documento.
Mas, além desse documento, esses jovens têm em comum o fato de pertencer a instituições que participam do Miac (Movimento de Intercâmbio Artístico-Cultural pela Cidadania). Formado em 1997, O Miac reúne cerca de 60 instituições de Salvador, entre escolas, organizações governamentais e não-governamentais.
Seu objetivo é, por meio da arte, garantir o acesso de crianças e adolescentes aos direitos sociais básicos, em especial a educação, e incentivar a participação deles em suas comunidades. Por meio do Miac, dirigentes, educadores e jovens fazem o intercâmbio de seus métodos e produtos artísticos.
Mas não é apenas esse tipo de intercâmbio que a instituição promove. Entre os dias 30/7 e 1º/8, aconteceu em Salvador o 2º Festival Miac - O Adolescente e a Arte Pelos Direitos Humanos, que reuniu jovens de todo o país, pais e educadores de Salvador e grupos convidados de Alagoas, Ceará e Pernambuco, para participar de discussões, oficinas e assistir a peças de teatro e performances.
Segundo um dos responsáveis pela organização do 2º Miac, Davi Cavalcanti, o principal objetivo do festival era proporcionar a troca de experiências dos educadores e jovens em torno do exercício da cidadania. "Educação, sexualidade, etnia e direitos humanos foram os principais temas abordados", afirmou.
E, como o Miac é voltado para a integração da arte e da educação na vida dos jovens, essa troca se deu por meio de discussões -uma delas foi sobre a importância dos meios de comunicação para os movimentos sociais-, mas também com muitas peças de teatro, performances, leituras de poesia e aulas-espetáculo.
Durante os três dias do evento, Salvador transformou-se na capital cultural do Nordeste. O Miac foi palco de apresentações de cantos e rituais indígenas, por exemplo, conduzidos por jovens índios de Alagoas, Bahia e Pernambuco, da Organização Multicultural Indígena Águia Dourada.
Para encerrar o festival, houve a oficina "Os Outros 500 Anos", coordenada por professores e poetas convidados, e a apresentação das peças "Auto da Camisinha", da Companhia Abacaxi, do Ceará, e "Com Arte Sem Aids", do Cria (Centro de Referência Integral do Adolescente), da Bahia.


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