São Paulo, Segunda-feira, 09 de Agosto de 1999
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O quarto elemento

CLAUDIO SCHAPOCHNIK
free-lance para a Folha

O graffiti hip hop brasileiro nasceu na periferia de São Paulo, no fim dos anos 80, consolidou-se como estilo no início da década de 90 e hoje domina o cenário paulistano. Individualmente ou em grupo, os grafiteiros traduzem em imagens dois outros componentes do movimento hip hop: o rap, com sua poesia de temas sociais, e o break, com sua dança acrobática, dinâmica e veloz.
A marca registrada desse tipo de graffiti é o desenho, feito com tinta spray, do nome do próprio grafiteiro ou de seu grupo.
"Eles usam letras volumosas, sombreadas, de difícil leitura e que podem apresentar personagens ao lado", afirma Roaleno Costa, 35, professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e doutorando em artes plásticas pela ECA-USP.
Esses personagens que adornam os nomes são graffitis que retratam, na maioria dos casos, o universo visual do rap e do break.
Geralmente são desenhos de jovens que usam bombeta (boné) ou gorro, calça com barras que "engolem" os tênis, óculos escuros, cavanhaque, correntes grossas com medalha ou crucifixo, camisetas de uma só cor e tênis esportivos. As mãos estão nos bolsos da calça ou uma delas segura um tubo de tinta spray.
Ainda como adorno, o graffiti pode trazer "frases que refletem a revolta com a violência e a corrupção, entre outros temas", diz o professor Roaleno Costa.
Na questão do espaço, os grafiteiros, além de lidar com a efemeridade de sua arte, ou seja, de não saber quanto tempo ela vai durar no muro, travam disputas pelo uso dos espaços. Seus inimigos são os caras que colam cartazes de shows e eventos, os pichadores e os funcionários de candidatos a cargos políticos -principalmente em ano de eleição.
Entre os grafiteiros e grupos que se destacam na produção do graffiti hip hop estão Os Gêmeos -também editores da primeira revista brasileira dedicada ao graffiti, a "Fiz Graffiti Attack"-, Vitché, Cobal, Binho, Tinho, Os Malema, Os Deuces etc.
Em São Paulo, os graffitis hip hop podem ser vistos em toda a cidade, porém mais fartamente nos bairros das zonas leste e sul.
Se você quiser vê-los, uma dica é percorrer a linha leste do metrô, da estação Sé até o terminal Itaquera, ou as avenidas do corredor da praça da Bandeira.


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