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TRAGÉDIA
O final de 2004 foi marcado por catástrofes em dois cantos do mundo; o Folhateen ouviu jovens que vivenciaram o maremoto na Ásia e o incêndio na discoteca argentina
Tristes relatos
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu tinha planejado escrever sobre
Tom Cruise e "O Último Samurai" quando meu pai me acordou
nesta manhã, às 8h, gritando "Terremoto!
Terremoto!'"
Assim começa o post que Ella Micheler,
16, escreveu em seu blog (www.livejournal.com/users/ellie_elephant) no dia 26
de dezembro. O título é "O dia depois de
amanhã".
Filha de um alemão com uma tailandesa,
a garota mora na ilha de Phuket, Tailândia,
um dos locais mais afetados pelo maremoto que deixou, segundo estimativas, quase
150 mil mortos na Ásia. Por sorte, a área
onde ela mora fica longe da praia e não foi
muito danificada.
O maremoto atingiu o sudeste da Ásia e
parte da África. Indonésia, Sri Lanka, Índia
e Tailândia foram os países mais atingidos
pelos tsunamis (ondas gigantes geradas
por terremotos, erupções vulcânicas ou
deslizamentos).
Ella Micheler conta que, na noite anterior, tinha ficado até tarde numa festa de
Natal e que, por isso, estava dormindo
quando o desastre aconteceu. "Fiquei na
cama, olhando para os móveis que se mexiam. Um minuto depois, a mesa parou de
tremer e voltei a dormir." Ela diz que só ao
meio-dia, quando acordou com o barulho
de helicópteros que sobrevoavam a área e
ligou o rádio, teve noção da proporção do
acontecimento.
A casa de uma amiga de Ella foi destruída
pelas ondas de mais de 10 m de altura que
se formaram com o maremoto. A volta às
aulas em sua escola foi adiada em cinco
dias. Uma de suas professoras ficou ferida e
perdeu a família. Apesar de tudo, seus amigos e familiares sobreviveram. "Foi um dos
dias mais surreais que já tive. Era estranho
ver que tudo à minha volta estava normal
enquanto tantas pessoas morreram a apenas meia hora de distância", diz a garota.
Reconstrução
Segundo Ella, aos poucos a vida em Phuket está voltando ao normal. Alguns dias
depois do que aconteceu, ela foi à praia e
viu que os danos estão sendo reparados rapidamente. "Tivemos três dias de luto, mas
não estamos sentados em casa, chorando.
A vida continua."
Como não fala tailandês, a garota diz que
é mais difícil para ela ajudar na reconstrução. "Sou pouco útil. Alguns amigos meus
estão ajudando a carregar corpos, mas não
tenho estômago para isso. Mal posso vê-los
pela televisão."
O que ela tenta fazer é manter as pessoas
informadas sobre o que aconteceu, colocando notícias atualizadas em seu blog e
ensinando a enviar ajuda às vítimas.
Depois de um susto tão grande, o Ano
Novo em Phuket foi totalmente diferente
dos anos anteriores. As festas oficiais foram
canceladas e apenas "dois solitários fogos
de artifício" foram ouvidos na vizinhança
de Ella. "Foi quieto. Quase não dava pra
sentir que era Ano Novo."
A garota diz que, às vezes, se sente pessimista e acha que as coisas podem piorar,
mas que a tragédia não conseguiu acabar
com as esperanças para 2005. "Estamos em
um novo ano e tudo pode acontecer. Espero que todas as áreas afetadas sejam reconstruídas o mais rápido possível e que as
pessoas não percam a esperança."
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