São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

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TRAGÉDIA

O final de 2004 foi marcado por catástrofes em dois cantos do mundo; o Folhateen ouviu jovens que vivenciaram o maremoto na Ásia e o incêndio na discoteca argentina

Tristes relatos

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu tinha planejado escrever sobre Tom Cruise e "O Último Samurai" quando meu pai me acordou nesta manhã, às 8h, gritando "Terremoto! Terremoto!'"
Assim começa o post que Ella Micheler, 16, escreveu em seu blog (www.livejournal.com/users/ellie_elephant) no dia 26 de dezembro. O título é "O dia depois de amanhã".
Filha de um alemão com uma tailandesa, a garota mora na ilha de Phuket, Tailândia, um dos locais mais afetados pelo maremoto que deixou, segundo estimativas, quase 150 mil mortos na Ásia. Por sorte, a área onde ela mora fica longe da praia e não foi muito danificada.
O maremoto atingiu o sudeste da Ásia e parte da África. Indonésia, Sri Lanka, Índia e Tailândia foram os países mais atingidos pelos tsunamis (ondas gigantes geradas por terremotos, erupções vulcânicas ou deslizamentos).
Ella Micheler conta que, na noite anterior, tinha ficado até tarde numa festa de Natal e que, por isso, estava dormindo quando o desastre aconteceu. "Fiquei na cama, olhando para os móveis que se mexiam. Um minuto depois, a mesa parou de tremer e voltei a dormir." Ela diz que só ao meio-dia, quando acordou com o barulho de helicópteros que sobrevoavam a área e ligou o rádio, teve noção da proporção do acontecimento.
A casa de uma amiga de Ella foi destruída pelas ondas de mais de 10 m de altura que se formaram com o maremoto. A volta às aulas em sua escola foi adiada em cinco dias. Uma de suas professoras ficou ferida e perdeu a família. Apesar de tudo, seus amigos e familiares sobreviveram. "Foi um dos dias mais surreais que já tive. Era estranho ver que tudo à minha volta estava normal enquanto tantas pessoas morreram a apenas meia hora de distância", diz a garota.

Reconstrução
Segundo Ella, aos poucos a vida em Phuket está voltando ao normal. Alguns dias depois do que aconteceu, ela foi à praia e viu que os danos estão sendo reparados rapidamente. "Tivemos três dias de luto, mas não estamos sentados em casa, chorando. A vida continua."
Como não fala tailandês, a garota diz que é mais difícil para ela ajudar na reconstrução. "Sou pouco útil. Alguns amigos meus estão ajudando a carregar corpos, mas não tenho estômago para isso. Mal posso vê-los pela televisão."
O que ela tenta fazer é manter as pessoas informadas sobre o que aconteceu, colocando notícias atualizadas em seu blog e ensinando a enviar ajuda às vítimas.
Depois de um susto tão grande, o Ano Novo em Phuket foi totalmente diferente dos anos anteriores. As festas oficiais foram canceladas e apenas "dois solitários fogos de artifício" foram ouvidos na vizinhança de Ella. "Foi quieto. Quase não dava pra sentir que era Ano Novo."
A garota diz que, às vezes, se sente pessimista e acha que as coisas podem piorar, mas que a tragédia não conseguiu acabar com as esperanças para 2005. "Estamos em um novo ano e tudo pode acontecer. Espero que todas as áreas afetadas sejam reconstruídas o mais rápido possível e que as pessoas não percam a esperança."


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