São Paulo, segunda, 10 de março de 1997.

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Essas bandas vão dar o que falar

DANIEL EDUARDO GOMES
especial para a Folha

Apesar de o Brasil ser uma fonte inesgotável de músicos talentosos, seu mercado ainda não é acessível a toda essa efervescência. O maior exemplo é a quantidade absurda de bandas que vêm lançando CDs.
Ligados a pequenos selos, gravadoras multinacionais e, muitas vezes, de forma independente, os grupos realizam seus trabalhos e os introduzem no "mercado", só esperando, na maioria das vezes, uma boa aceitação do público.
Alguns bons exemplos de quem correu atrás de tudo e chegou ao lançamento de seu primeiro CD, sem vínculos com ninguém (ou seja, de forma independente) são o Boi Mamão (Curitiba), o Bando (Campinas) e o Necromancia (São Bernardo do Campo). Apesar da diferença de estilos, os três grupos alcançaram resultados extremamente positivos.
O Boi Mamão arrebenta com seu skacore, principalmente nos momentos inspirados e experimentais de seu baixista, Lúcio Pingatheooz. A cover de "Nós Vamos Invadir Sua Praia" (Ultraje a Rigor) ficou mais empolgante que a versão original.
Deixando a esquisitice de lado, o Bando investe no rock'n'roll dos anos 80. Um som bem cadenciado, que evidencia a incrível competência do quarteto. Como o próprio vocalista da banda, Cabeto Rocker, diz, "é rock!".
Já o Necromancia direciona seu estilo para o heavy/thrash, mas sem apelar para os vocais a la Max Cavalera. As influências mais notáveis são Testament e Megadeth, principalmente na faixa "No Way Out". Os anos de estrada deram uma segurança evidente ao power trio do ABC paulista.
Já tendo um certo apoio, vêm as bandas que se uniram a pequenos selos, que podem não ter uma boa distribuição, mas trabalham com muita dedicação.
Dessas bandas, podemos ressaltar algumas. O Dorsal Atlântica está ligado a Cogumelo Records e é o maior nome do thrash metal residente no país há vários anos.
O D.F.C., vindo de Brasília, é um dos nomes mais fortes do verdadeiro hardcore. Exibe uma pancadaria sonora de dar inveja a muitas bandas de fora e é da Sonya Music.
Os Cabeloduro, também de Brasília, mistura hardcore, punk rock e um pouco de rap. O álbum deles, pela RVC Music, é um dos melhores de todos os tempos nessa linha.
O Beach Lizards, ligado a Orphan Records, lançou seu segundo disco. Em 14 faixas, une punk, hardcore e surf music com ótima aderência de um estilo ao outro.
Destaque também para a coletânea do verdadeiro punk paulista "S.P. Punk Vol. 1", lançada pela Desculpe Aturá-los!!! Records. Conta com as bandas Invasores de Cérebros, Kolapso 77, Calibre 12, D.Z.K. e Indigesto, entre outras.
E, finalmente, com boa estrutura, estão os grupos que descolaram contratos com as chamadas "majors", mas ainda não emplacaram: Dotô Jéka (Virgin/EMI), Magnéticoss (Excelente Discos/Polygram) e Psycho Drops (WEA).
A primeira investe assumidamente na mistura do rock com a música caipira e a fórmula dá certo. A versão rock'n'roll de "Romaria" (Renato Teixeira) une melodia e peso na medida certa. O Dotô Jéka promete muito para 97!
Os Magnéticoss também mesclam estilos: rock, punk, guitar band, pop, ska, etc. Cantam em inglês, português e espanhol e já estão com o clipe de "Istambul ou Paraguay" rolando na MTV.
A última banda, o Psycho Drops, lançou seu álbum no primeiro semestre de 96 e esbanjou peculiaridades: algumas faixas beiram o punk rock de 1977 e outras são baladas românticas que têm até violino. "Paralisado" é um hino. O instrumental de primeira e a letra inteligente se encaixam perfeitamente com o peso do vocal.
Com tantas opções de qualidade, as rádios deveriam (e poderiam) abrir mais portas para as novidades e dar chance ao público de escolher o que quer ouvir. Mas com certeza com esse novo "boom" do rock nacional, isso irá acontecer. Mais cedo ou mais tarde!


Daniel Eduardo Gomes é editor do "Underguide", guia de música underground
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