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Essas bandas vão dar o que falar
DANIEL EDUARDO GOMES
especial para a Folha
Apesar de o Brasil ser uma fonte
inesgotável de músicos talentosos,
seu mercado ainda não é acessível
a toda essa efervescência. O maior
exemplo é a quantidade absurda
de bandas que vêm lançando CDs.
Ligados a pequenos selos, gravadoras multinacionais e, muitas vezes, de forma independente, os
grupos realizam seus trabalhos e
os introduzem no "mercado", só
esperando, na maioria das vezes,
uma boa aceitação do público.
Alguns bons exemplos de quem
correu atrás de tudo e chegou ao
lançamento de seu primeiro CD,
sem vínculos com ninguém (ou seja, de forma independente) são o
Boi Mamão (Curitiba), o Bando
(Campinas) e o Necromancia (São
Bernardo do Campo). Apesar da
diferença de estilos, os três grupos
alcançaram resultados extremamente positivos.
O Boi Mamão arrebenta com seu
skacore, principalmente nos momentos inspirados e experimentais de seu baixista, Lúcio Pingatheooz. A cover de "Nós Vamos
Invadir Sua Praia" (Ultraje a Rigor) ficou mais empolgante que a
versão original.
Deixando a esquisitice de lado, o
Bando investe no rock'n'roll dos
anos 80. Um som bem cadenciado,
que evidencia a incrível competência do quarteto. Como o próprio
vocalista da banda, Cabeto Rocker, diz, "é rock!".
Já o Necromancia direciona seu
estilo para o heavy/thrash, mas
sem apelar para os vocais a la Max
Cavalera. As influências mais notáveis são Testament e Megadeth,
principalmente na faixa "No Way
Out". Os anos de estrada deram
uma segurança evidente ao power
trio do ABC paulista.
Já tendo um certo apoio, vêm as
bandas que se uniram a pequenos
selos, que podem não ter uma boa
distribuição, mas trabalham com
muita dedicação.
Dessas bandas, podemos ressaltar algumas. O Dorsal Atlântica está ligado a Cogumelo Records e é o
maior nome do thrash metal residente no país há vários anos.
O D.F.C., vindo de Brasília, é um
dos nomes mais fortes do verdadeiro hardcore. Exibe uma pancadaria sonora de dar inveja a muitas
bandas de fora e é da Sonya Music.
Os Cabeloduro, também de Brasília, mistura hardcore, punk rock
e um pouco de rap. O álbum deles,
pela RVC Music, é um dos melhores de todos os tempos nessa linha.
O Beach Lizards, ligado a Orphan Records, lançou seu segundo
disco. Em 14 faixas, une punk,
hardcore e surf music com ótima
aderência de um estilo ao outro.
Destaque também para a coletânea do verdadeiro punk paulista
"S.P. Punk Vol. 1", lançada pela
Desculpe Aturá-los!!! Records.
Conta com as bandas Invasores de
Cérebros, Kolapso 77, Calibre 12,
D.Z.K. e Indigesto, entre outras.
E, finalmente, com boa estrutura, estão os grupos que descolaram
contratos com as chamadas "majors", mas ainda não emplacaram:
Dotô Jéka (Virgin/EMI), Magnéticoss (Excelente Discos/Polygram)
e Psycho Drops (WEA).
A primeira investe assumidamente na mistura do rock com a
música caipira e a fórmula dá certo. A versão rock'n'roll de "Romaria" (Renato Teixeira) une melodia e peso na medida certa. O
Dotô Jéka promete muito para 97!
Os Magnéticoss também mesclam estilos: rock, punk, guitar
band, pop, ska, etc. Cantam em inglês, português e espanhol e já estão com o clipe de "Istambul ou
Paraguay" rolando na MTV.
A última banda, o Psycho Drops,
lançou seu álbum no primeiro semestre de 96 e esbanjou peculiaridades: algumas faixas beiram o
punk rock de 1977 e outras são baladas românticas que têm até violino. "Paralisado" é um hino. O
instrumental de primeira e a letra
inteligente se encaixam perfeitamente com o peso do vocal.
Com tantas opções de qualidade,
as rádios deveriam (e poderiam)
abrir mais portas para as novidades e dar chance ao público de escolher o que quer ouvir. Mas com
certeza com esse novo "boom"
do rock nacional, isso irá acontecer. Mais cedo ou mais tarde!
Daniel Eduardo Gomes é editor do "Underguide", guia de música underground
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