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"Falcão" acompanhou 16 garotos que trabalhavam para o tráfico; menos de dois anos depois, apenas um estava vivo
Soldados mortos
FERNANDA MENA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A farda é informal: chinelo de dedo, bermuda e camiseta. As armas são pesadas: fuzis, pistolas e rifles. A idade é pouca, o risco é alto, e
a trajetória de vida, curta demais.
Assim são os adolescentes que
trabalham no tráfico de drogas no
Brasil. Eles são o foco do documentário "Falcão", dirigido pelo rapper
carioca MV Bill, 28, e por seu produtor, Celso Athayde, 40.
Ao longo de mais de dois anos de
filmagens, em que 16 garotos de vários Estados foram escolhidos como
condutores do retrato de um Brasil
que não se quer ver, uma situação
crítica mostrou sua face mais cruel:
15 dos 16 personagens, todos entre
13 e 18 anos, haviam morrido. A realidade havia ultrapassado as projeções mais escabrosas.
"O problema é muito mais grave
do que a gente imaginava. Uma coisa é imaginar, outra é ver acontecendo na sua frente", lamenta Bill.
Soldados de um conflito constante contra a polícia, contra as facções
rivais e contra sua própria condição, eles habitam o imaginário da
sociedade como sanguinários agentes da violência que bate à sua porta
-como quando o Rio viveu dias de
terror às vésperas do Carnaval.
"Falcão" pretende ser o primeiro
registro da vida (e da morte) desses
garotos feito da ótica de quem conhece o problema na pele. Primeiro,
porque o próprio MV Bill, quando
jovem, sucumbiu ao tráfico; segundo, porque algumas cenas foram
feitas pelos próprios "falcões".
Ainda em fase de captação, o projeto levantou parte dos recursos
graças às leis de incentivo do Ministério da Cultura e a um prêmio de
R$ 100 mil da Brasil Telecom, mas
ainda busca financiamento. O Folhateen e o secretário nacional de
Segurança Pública, Luis Eduardo
Soares, assistiram a um trailer produzido com as primeiras filmagens.
"O documentário é um trabalho
muito importante. Estamos redescobrindo um Brasil que está perto
de nós e, paradoxalmente, muito
distante", comentou o secretário.
O Folhateen acompanhou filmagens de "Falcão" e esteve -em dezembro de 2002 e em fevereiro deste
ano (um dia antes dos conflitos iniciados no dia 24 no Rio)- em comunidades onde trechos do documentário já haviam sido rodados.
Conversou com jovens envolvidos
no tráfico, observou seu trabalho e
investigou os motivos, os anseios e
as reivindicações que estão por trás
da mira das armas desses "falcões".
Falcão é o nome dado aos garotos
que se arriscam e movimentam o
varejo de drogas Brasil afora. Falcão, como eles dizem, "não dorme".
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