São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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Darlene, vivida por Deborah Secco em "Celebridade", vira inspiração de garotas

Elas adoram aparecer

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há momentos em que a TV arrebenta o vidro da tela e invade a realidade. A manicure Darlene, da atual novela das oito da Globo, "Celebridade", é o caso mais recente. O nome da personagem que faz tudo para aparecer estampada na capa da revista "Fama", interpretada pela atriz Deborah Secco, 24, é hoje sinônimo de alguém que só busca o sucesso. Passou a ser comum ouvir dizer que fulana "é a maior Darlene", que beltrana "acordou Darlene" ou que sicrana "está com complexo de Darlene".
Se você pensar bem, é fácil de reconhecer uma Darlene na vida real. São bonitas, têm o sonho de ser modelo, atriz ou cantora, vestem-se com roupas ousadas e coloridas, usam muitos acessórios e maquiagem e, é claro, adoram ser o centro de todas as atenções.
"Levanta o ego saber que todo mundo me olha. Apesar de ser exagerada, a Darlene é uma inspiração", diz a estudante Stella Maris, 18, que já fez curso para modelo e se sentiu em casa quando foi fotografada para a reportagem do Folhateen.
"Darlene é o que mais tem. Mulher adora aparecer, pois há uma rivalidade de querer ser melhor que as outras. É o jeito de se vestir e de ser que revela quem são as Darlenes", conta Stella. "Sempre falam que dou risadas escandalosas no estilo dela. Mas encaro até como elogio ser chamada de Darlene. Ela é doidinha, mas é muito bonita. Falem mal, mas falem de mim. Acabo ganhando ibope."
Verônica Evangelista Moreno, 14, é modelo, estuda na 8ª série e já participou da platéia de diversos programas da TV Record, como Raul Gil, Eliana e Netinho. "É muito legal, fico toda feliz, pois tive os meus 15 minutos de fama", conta, parafraseando o artista plástico Andy Warhol, que disse que, no futuro, todo mundo teria pelo menos 15 minutos de fama.
"Adoro ser reconhecida na rua. Não dá para explicar, é muito bom. Abro um sorriso que vai de orelha a orelha." Para isso, Verônica usa saias plissadas curtinhas, meias coloridas, blusas de alcinha e decotadas e muitos acessórios, como pulseiras e gargantilhas.
"Sempre fui extrovertida, meio Darlene. Quando ela apareceu, a minha família logo começou a me chamar de Darlene", conta Verônica, que quer ser atriz, mas, se não der certo, pretende fazer faculdade de letras e filosofia, pois, desde pequena, quer ser escritora e modelo.
Para chamar a atenção, Yasmine Tainá Moreira da Silva Ramalho, 13, que tem duas saias plissadas como a da Darlene, uma delas comprada após o sucesso da novela, faz "qualquer loucura". "Canto, danço, atuo... Quando quero que prestem atenção em mim berro e até finjo que estou passando mal."
Ela é modelo, mas sonha em se tornar cantora como Alicia Keys. "Quero dançar e cantar, ser uma popstar. É a minha paixão. Quero fazer bastante sucesso. Só preciso ter uma chance no ramo da música", conta Yasmine antes de cantar, de cor, para a reportagem do Folhateen, a letra da música "Cry me a River", de Justin Timberlake, um de seus ídolos, ao lado de Michael Jackson e Jennifer Lopez.
A estudante da 7ª série Jéssica Geremias Vendramini, 13, é bem tranqüila, até no jeito de falar. "Mas quando vejo uma câmera logo pulo na frente. Gostaria de ser atriz, porque acho que nasci para isso. Quero fazer coisas boas com o meu sucesso, como, por exemplo, ajudar a minha família", conta Jéssica.
Ela não acha a Darlene um bom exemplo para as garotas que querem fama. "Ela faz coisas ruins e é muito vulgar, identifico-me com ela na parte de querer aparecer. Só isso, mas acho que a novela influencia as meninas", explica Jéssica.
Mas sucesso e fama são realmente a chave para encontrar a felicidade ou são, pelo menos, um caminho para isso? Para Deborah Secco, a atriz que veste as meias coloridas com sandália aberta, saia curtíssima, decotes escandalosos e fivelinhas no cabelo para interpretar a Darlene, em "Celebridade", a resposta é não.
"Nunca quis ser famosa, mas sempre quis ser atriz, independentemente de qual veículo eu trabalharia. A minha piração era interpretar uma vida diferente da minha. A fama veio como conseqüência e não é tão prazerosa assim. Fazendo a Darlene acabei conhecendo pessoas que gostam disso. Acho muito louco", conta Deborah, que fala dos problemas que o sucesso acaba trazendo.
"Tudo o que a gente faz é julgado, posto em evidência. Eu sou só mais uma menina vivendo uma vida normal. Isso me atrapalha em ter amigos, em ter relacionamentos, há sempre pessoas atrás de mim, pessoas que me seguem, me fotografam, não é nada agradável. Acabo sem poder viver normalmente, mas tem gente que adora isso, que sonha em sair de casa sendo seguida por fotógrafos."
Deborah alerta que o melhor caminho para conseguir ser bem-sucedida não é aparecer a qualquer custo. "O ser humano só é feliz quando encontra o porquê de estar aqui. Todo mundo tem uma missão. Como diz Paulo Coelho em "O Alquimista", todo mundo tem uma lenda pessoal, um porquê. Para mim, atuar me traz uma alegria maior que qualquer outra coisa. Fama e sucesso são falsos, atraem relacionamentos e amizades falsas. As pessoas devem lutar sempre para ser o que há de verdade dentro delas."


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