São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Comportamento

"Se descobrissem uma injeção para curar o albinismo, eu não iria querer; acho um luxo"

"Até meus 15 anos, eu nem tinha certeza se era ou não albina, pois quando nasci houve divergência entre os médicos.
Um dia, decidi ir atrás. Fui pesquisar e vi que há mesmo muita ignorância sobre o assunto.
Todo mundo fala do preconceito contra gays, contra negros, mas nem no IBGE há estatística sobre albinos.
Tem gente que acha que albino não pode sair na rua; tem pai que põe o filho no sol pra ver se "melhora'; outros expulsam o filho de casa. Antes de descobrir uma comunidade no Orkut eu não conhecia ninguém como eu.
Quando conheci o grupo, achei todos tão bonitos, o cabelo das meninas, falava "ai, que linda...!" Aí desencanei completamente. Passei a ter até orgulho disso.
Sou o resultado de um conjunto, a soma de dentro com o de fora, tudo isso tem a ver comigo.
Se, por ignorância, algumas pessoas não aceitam a minha diferença, eu não posso fazer nada por elas. Não posso, nem quero, mudar.
Aliás, se hoje descobrissem uma cura para o albinismo, uma injeção que fizesse meu corpo passar a produzir melanina, eu não iria querer.
Há tanta gente querendo se diferenciar e eu já nasci naturalmente diferente - acho isso um luxo.
Me considero hoje uma peruona: sou extravagante, doidinha, falo alto, gosto de tudo rosa. Eu "me acho". Sou uma peruona albina.
Conheci o Rick, meu namorado, lá na comunidade do Orkut. Acho ele lindo!
E imagine, a gente na rua chama pouco atenção... kkkkk...
Hoje eu lido bem, mas já tive apelidos chatos, como "transparente". Quando era criança era pior. Criança é cruel, né? Dos 11 anos aos 14 também foi complicado. Eu queria parecer normal, ser parte de um grupo, encaixada.
Não vou dizer que não sofri, que sempre tive a auto-estima elevada, e nem que hoje as pessoas não olham mais. Eu é que parei de me importar. Não ligo mais, vejo como um charme da natureza."

Depoimento de CAMILA REIS, 18

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