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Comportamento
"Se descobrissem uma injeção para curar o albinismo, eu não iria querer; acho um luxo"
"Até meus 15 anos,
eu nem tinha
certeza se era
ou não albina,
pois quando
nasci houve divergência entre
os médicos.
Um dia, decidi ir atrás. Fui
pesquisar e vi que há mesmo
muita ignorância sobre o assunto.
Todo mundo fala do preconceito contra gays, contra negros, mas nem no IBGE há estatística sobre albinos.
Tem gente que acha que albino não pode sair na rua; tem pai
que põe o filho no sol pra ver se
"melhora'; outros expulsam o
filho de casa.
Antes de descobrir uma comunidade no Orkut eu não conhecia ninguém como eu.
Quando conheci o grupo,
achei todos tão bonitos, o cabelo das meninas, falava "ai, que
linda...!" Aí desencanei completamente. Passei a ter até orgulho disso.
Sou o resultado de um conjunto, a soma de dentro com o
de fora, tudo isso tem a ver comigo.
Se, por ignorância, algumas
pessoas não aceitam a minha
diferença, eu não posso fazer
nada por elas. Não posso, nem
quero, mudar.
Aliás, se hoje descobrissem
uma cura para o albinismo,
uma injeção que fizesse meu
corpo passar a produzir melanina, eu não iria querer.
Há tanta gente querendo se
diferenciar e eu já nasci naturalmente diferente - acho isso
um luxo.
Me considero hoje uma peruona: sou extravagante, doidinha, falo alto, gosto de tudo rosa. Eu "me acho". Sou uma peruona albina.
Conheci o Rick, meu namorado, lá na comunidade do Orkut. Acho ele lindo!
E imagine, a gente na rua
chama pouco atenção... kkkkk...
Hoje eu lido bem, mas já tive
apelidos chatos, como "transparente". Quando era criança era
pior. Criança é cruel, né? Dos 11
anos aos 14 também foi complicado. Eu queria parecer normal, ser parte de um grupo, encaixada.
Não vou dizer que não sofri,
que sempre tive a auto-estima
elevada, e nem que hoje as pessoas não olham mais. Eu é que
parei de me importar. Não ligo
mais, vejo como um charme da
natureza."
Depoimento de CAMILA REIS, 18
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