São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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02 NEURÔNIO

Nossas vidas por um iPod

JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO

Quando éramos crianças, nos jogávamos no chão se por acaso não ganhássemos o presente de Natal da moda naquele ano. Primeiro foi a boneca Atchim (uma que sofria de alergia), depois a Bebê Engatinhando 0 (que mais parecia um robô sem óleos nas juntas) e, mais tarde, o walkman. Quem não tinha um walkman era um loser, um nada. Não participaria das conversas sobre gravar fitinhas e não tiraria onda com seu aparelho gigante (que na época achávamos mínimo) pendurado na cintura. Muitos anos se passaram. Gastamos fortunas fazendo análise e ioga. Mas a verdade é que continuamos umas crianças mimadas que são capazes de se jogar no chão porque ainda não tem um... iPod!
Sim, quem não tem um iPod nos dias de hoje (e, sim, estamos falando do meio abastado onde vivemos, porque no Brasil de verdade, é claro, ninguém sabe o que é esse iPod) fica se achando meio datado e meio loser. Todos os nossos amigos já têm iPod. E, se eles têm, começamos a achar que precisamos de um também. O que é ridículo, infantil. Trata-se do mesmo sentimento que tivemos ao pedir para nossos pais a maquininha de costurar da Estrela "porque todo mundo ia ganhar". Essa máquina acabou com nossos natais, porque não funcionava.
O iPod foi um dos artigos mais vendidos no último Natal americano. E, se quem não tem é considerado um loser, coisas estranhas começam a acontecer. Em Nova York, um adolescente foi assassinado porque não entregou seu iPod para um grupo de adolescentes ladrões. Antes mesmo do crime, a polícia da cidade já fazia uma campanha distribuindo panfletos para orientar os usuários do aparelho. A campanha "Vamos acabar com o roubo de iPods" ensinava os iPodeiros a, entre outras coisas, trocarem os fones de ouvido de seus aparelhos.
Ou seja: nem tudo são flores e "gadgets" no mundo Jetsons que bate à nossa porta. E, mesmo sabendo que o valor de uma pessoa não é medido pela definição de sua câmera digital, continuamos nos sentindo deslocadas porque não temos um.

Momentos de histeria
Eu iPodo, logo existo

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