São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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Violência de leste a oeste

DA REPORTAGEM LOCAL

Gangues, máfia, tráfico de drogas e assassinatos por encomenda são uma parte indissociável do mundo do rap nos Estados Unidos, e as consequências trágicas dessas relações volta e meia figuram nas páginas policiais dos jornais.
Há muito mistério envolvendo o submundo do rap, suas relações reais com gangues de rua, com mafiosos e com traficantes de drogas. A maior parte das pistas para entrar nesse submundo vem das letras de rappers do estilo gangsta, que, rimando em primeira pessoa, muitas vezes se colocam como traficantes, assassinos e rufiões. Entretanto é difícil distinguir a realidade da ficção, as bravatas dos fatos, os rumores dos boatos.
De concreto, há uma rixa pública e sangrenta entre rappers da Costa Leste e da Costa Oeste dos EUA, nutrida por ambos os lados desde os anos 90.
"As rixas existem de fato, mas é preciso dar um desconto para o que dizem as letras. Se você fosse um gângster de verdade, sairia falando que roubou, que trafica drogas ou que matou alguém? Os gângsteres de verdade ficam quietos", diz o agente de grupos de rap de Nova York Rich "Balewa" Manson.
Para ele, essa divisão entre os negros é maléfica e tem raízes no regime escravocrata. "Desde que éramos escravos, os senhores tinham a tática de dividir os negros para dominá-los melhor. Isso ainda não mudou", afirma.
O jornalista da "Rolling Stone" Randall Sullivan, que publicou neste ano, pela Atlantic Monthtly, o livro "LAbyrinth", no qual investiga as mortes de 2Pac e de Notorious B.I.G. também diz que a rixa entre californianos e nova-iorquinos é real. "Mas ela foi muito "hypada", porque os rappers perceberam que isso era bom para a venda de discos", diz. Um exemplo é a famosa contenda entre Nas e Jay-Z, que trocam ofensas nas músicas, mas saem juntos para a balada.
De todos os casos envolvendo artistas de gangsta, o de 2Pac e B.I.G, mortos em 96 e 97, respectivamente, é o mais famoso. Mas, até hoje, a polícia não conseguiu chegar a uma solução.
A disputa entre os dois tem por trás duas figuras de peso do hip hop, o californiano Suge Knight, da Death Row Records, e o nova-iorquino P. Diddy [Puffy Combs", da Bad Boy. "Suge Knight começou a fazer ataques públicos a Puffy Combs. Puffy tentou diminuir a tensão, mas falhou várias vezes até que se convenceu de que tinha de contra-atacar", diz Sullivan.
O jornalista está convencido de que as mortes dos rappers foram encomendadas por Knight. "2Pac foi morto enquanto estava com Knight em uma viagem a Las Vegas e, naquele dia, Knight despediu o principal guarda-costas de 2Pac. B.I.G. foi morto depois de uma festa em Los Angeles. Ele estava com Puffy Combs no carro, e foi claramente um assassinato profissional. As provas que implicavam Knight no crime foram coletadas por policiais que, nas horas vagas, trabalhavam para ele e, talvez por isso, o crime nunca tenha sido resolvido", diz.
Sullivan diz que o motivo de Knight querer 2Pac morto é simples. "Ele devia mais de US$ 3 milhões em royalties e não queria pagar, principalmente depois de ter ficado claro que 2Pac queria deixar a Death Row, versão confirmada à polícia por rappers, incluindo Snoop Dogg. Informantes disseram que Knight matou B.I.G. para remover as suspeitas de que ele estava envolvido na morte de 2Pac."
Entretanto há outras versões para o caso. O jornal "Los Angeles Times" publicou neste ano uma reportagem dizendo que B.I.G. teria oferecido a membros de gangues US$ 1 milhão para matar 2Pac. O motivo teria sido uma letra de 2Pac em que o californiano dizia ter feito sexo com a mulher de B.I.G., que estava grávida na época.
Quem tem razão? (GW)


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