São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Irmandade no rap e polêmica fora dele

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

A ligação entre o rap nacional e a violência está tanto na sua origem como nos seus objetivos de alertar e conscientizar. Enquanto alguns artistas americanos cantam de galo e insinuam envolvimento com o crime, os brasileiros seguem a linha discursiva da lição de moral.
Se as batidas e as letras de rap são por vezes violentas e agressivas, é porque, através da música, é apresentado ao público médio o difícil cotidiano das favelas e periferias que inspiraram essa arte.
Por isso a linha que separa apologia de denúncia social por vezes se embaralha, e um rap que trata dos perigos do tráfico pode, para ouvidos menos atentos, soar como incentivo a essa prática.
A influência musical dos EUA no Brasil não carregou a herança das tretas declaradas. Lá, alimenta-se a rivalidade entre a Costa Leste e a Costa Oeste, aqui, a tendência é a irmandade. E as mortes no rap brasileiro são, até hoje, fruto da mesma violência que suas letras denunciam, mas ainda não têm o poder de cessar.
Leia, a seguir, opiniões de rappers brasileiros sobre o rap e a violência.


KL Jay, do Racionais MCs
"O cotidiano de quem é preto é violento mesmo. A realidade é essa. É a polícia que embaça, tem uma pá de cara que tem inveja de você, é o álcool, é o tráfico... A gente já nasceu meio envolvido com isso, entendeu? E a arte é uma maneira de a gente ficar longe disso. Mas a realidade pode pegar você, se não tiver cuidado"
"No Racionais, tratamos da realidade mas explicamos: "Firmão, esse caminho aqui é melhor. Aquele ali é facinho, mas uma pá de cara já morreu, já foi preso". Mesmo assim, infelizmente, tem gente que deturpa a idéia e assimila só o que quer."


MV Bill, rapper carioca
"A gente vive num "miserê" do caralho. A violência bate à porta toda hora. Ainda assim, quando os caras se juntam pra fazer um grupo de rap, querem mostrar que se regeneraram e pedir para ninguém fazer aquilo."


Afro-X, ex-detento, do 509-E
"A minha recuperação tem 100% a ver com o rap. A ligação do rap com o crime é só uma: o rap fala do crime. O crime é uma coisa e o rap é outra. O óleo não se mistura com a água."

"Eu temo a violência também. Ninguém está imune. Nossa missão é lutar e alertar o pessoal de que a parada é a paz. Tem um monte de nóias por aí, e os caras não querem saber quem é quem."


Texto Anterior: Meu adidas: Assassinato de DJ põe fim ao Run-DMC, um dos nomes mais inventivos do hip hop
Próximo Texto: Violência de leste a oeste
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.