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ESTANTE
Por dentro da cabeça e do coração de um juiz na hora da sentença
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Sempre dá para imaginar como é a
vida dos outros. A vida de um
juiz de direito, por exemplo, como
é? Antes de dar uma sentença e encarcerar um sujeito, o que passa na
cabeça e no coração dele?
Pois Michel Laub não apenas imaginou como escreveu essa imaginação. Em sua novela "Música Anterior", entramos em contato com o
modo de pensar e de ser de um juiz
que, logo no início da história, condena um sujeito por estupro (de
uma criança).
Novela delicada, bem escrita, com
ótimo ritmo, sem nada de apelativo
ou de violento na superfície das cenas. Em compensação, o interior
dos personagens é um turbilhão só.
Em especial a mente do protagonista, o juiz, cuja mãe morreu quando
ele ainda era criança e cujo pai é um
ser frio e distante.
A literatura brasileira poucas vezes abordou de frente o universo
dos advogados ou do aparelho judiciário e, quando o fez, foi meio de lado: um advogado manhoso, capaz
de torcer fatos em seu favor, como
Bento Santiago, em "Dom Casmurro"; um julgamento cheio de retórica, mas em pleno sertão e com a assistência a cavalo, em "Grande Sertão: Veredas"; e pouca coisa mais.
Não tivemos ainda um Kafka, nem
temos romances e filmes de tribunal. Mas temos aqui uma bela novela, que não fala diretamente de tribunais, mas da formação afetiva de
um juiz. Uma novela que ajuda a
pensar sobre cada um de nós.
"Música Anterior"
Autor: Michel Laub
Editora: Cia das Letras
Quanto: R$ 19,50, em média
E-mail - fischerl@uol.com.br
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