São Paulo, segunda-feira, 12 de novembro de 2001

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ESTANTE

Por dentro da cabeça e do coração de um juiz na hora da sentença

LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sempre dá para imaginar como é a vida dos outros. A vida de um juiz de direito, por exemplo, como é? Antes de dar uma sentença e encarcerar um sujeito, o que passa na cabeça e no coração dele?
Pois Michel Laub não apenas imaginou como escreveu essa imaginação. Em sua novela "Música Anterior", entramos em contato com o modo de pensar e de ser de um juiz que, logo no início da história, condena um sujeito por estupro (de uma criança).
Novela delicada, bem escrita, com ótimo ritmo, sem nada de apelativo ou de violento na superfície das cenas. Em compensação, o interior dos personagens é um turbilhão só. Em especial a mente do protagonista, o juiz, cuja mãe morreu quando ele ainda era criança e cujo pai é um ser frio e distante.
A literatura brasileira poucas vezes abordou de frente o universo dos advogados ou do aparelho judiciário e, quando o fez, foi meio de lado: um advogado manhoso, capaz de torcer fatos em seu favor, como Bento Santiago, em "Dom Casmurro"; um julgamento cheio de retórica, mas em pleno sertão e com a assistência a cavalo, em "Grande Sertão: Veredas"; e pouca coisa mais. Não tivemos ainda um Kafka, nem temos romances e filmes de tribunal. Mas temos aqui uma bela novela, que não fala diretamente de tribunais, mas da formação afetiva de um juiz. Uma novela que ajuda a pensar sobre cada um de nós.



"Música Anterior"
Autor: Michel Laub
Editora: Cia das Letras
Quanto: R$ 19,50, em média


E-mail - fischerl@uol.com.br


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