da Reportagem Local

Irmãos gêmeos, Fábio Moon e Gabriel Bá, 23, chamaram a atenção de outros cartunistas com o livro de estréia, "O Girassol e a Lua", recém-lançado pela editora Via Lettera. No prefácio, elogios de Laerte e, abaixo, um bate-papo dos jovens quadrinhistas com Fernando Gonsales, criador do Níquel Náusea, tirinha publicada diariamente na Folha.

 

Fernando Gonsales - Vocês desenham há quanto tempo?
Fábio - Desde os dois anos, lápis na mão desenhando...

Gonsales - Profissionalmente?
Fábio - Faz uns quatro anos. O livro é a primeira grande distribuição. Antes era só fanzine.

Gabriel - Durante um ano, a gente fez o fanzine "Dez Pãezinhos".

Gonsales - Como foi fazer o livro? Vocês trabalharam em dupla o tempo todo?
Gabriel - A idéia original foi do Fábio. Ele tinha mais ou menos o conceito da história. Mas, a cada capítulo, discutíamos como seria a diagramação, o que teria em cada página e as falas, que eram o último estágio.

Gonsales - E a parceria funciona bem?
Fábio - Funciona bem quando eu tenho de escrever bastante, e ele tem de desenhar bastante.

Gabriel - Nessa história quem desenhou mais fui eu porque a gente já estava fazendo o "Roland-days of Wrath".

Fábio - A série que a gente lançou nos Estados Unidos.

Gonsales - Explica isso aí que é para o pessoal saber.
Fábio - O "Roland-days..." é uma minissérie que a gente lançou nos EUA, mas que um cara de lá escreveu, o Shane (Amaya). Ele precisava de desenhistas, daí a gente mostrou algumas coisas, e ele gostou. Aí quando a gente estava fazendo o "Dez Pãezinhos" era quando eu ia começar a fazer o "Roland-days...", o primeiro número era eu que desenhava. A idéia de o Bá desenhar mais "O Girassol e a Lua" era para eu ter tempo para o "Roland-days...".

Gonsales - É legal porque vocês têm o desenho bem diferente um do outro...
Gabriel - É, há umas diferenças de estilo. Em "O Girassol e a Lua" está mais explícito do que em "Roland-days...", porque na minissérie há mais personagens em comum, então a gente tinha de manter a unidade. E a cor foi uma pessoa só que fez.

Gonsales - E tem alguma perspectiva, vai ter continuidade?
Gabriel - Tenho uma história que pretendo terminar em abril ou maio para publicar este ano.

Gonsales - E "O Girassol e a Lua" tem algum contato para publicar fora também, não?
Fábio - Agora com o material pronto, impresso, a gente vai ver se prepara uma tradução e começa a apresentar.

Gonsales - Porque lá eles só aceitam colorido basicamente. Teria de colorir, né?
Fábio - Se tivesse de colorir, não teria tanto problema assim. Mas está aumentando muito o mercado do preto-e-branco porque diminui o custo. Então, há editoras menores que querem publicar mais coisas independentes, e colorido é um grande risco.

Gonsales - Vocês estão pensando em manter algum site?
Gabriel - Bom, há o site do "Roland-days..." nos Estados Unidos, que o Shane mantém. Mas com o "Dez Pãezinhos" é complicado porque a gente teria de correr atrás de um provedor. Se a gente tivesse de fazer um site, ia ter de ter coisas para dar download, pedir pelo correio, pela Internet.

Gonsales - Esse negócio de vocês serem gêmeos, o referencial sempre acaba sendo o Paulo e o Chico Caruso. O desenho deles é similar, mas, com atenção, você consegue distinguir bem. Vocês têm alguma preocupação em manter a distinção?
Fábio - A gente não tem de fazer muita força. A gente teria de fazer mais força se quisesse continuar igual. Principalmente na hora de fazer arte final. A arte final é essencial, dá uma bela diferença. Eu costumo fazer arte final com pincel, e o Bá, com caneta. O traço fica bem mais solto...

Gonsales - Vocês têm alguma influência?
Gabriel - Poderia generalizar nos artistas que trabalham muito com luz e sombra, vai desde o Frank Miller, o Mark Mignola, que faz o Hellboy. E gosto do Geof Darrow, aquele que fez o Hard Boiled, que também trabalha com o Frank Miller. Aquele que é todo cheio de detalhezinhos.

Fábio - Uma das influências bem presentes no meu trabalho, cada vez mais, é o Will Eisner.

Gonsales - Gostaria de saber se tem alguma coisa que eu deixei escapar.
Gabriel - Acho que é legal falar aí que nós dois fizemos faculdade de artes plásticas.

Fábio - A evolução visual que se deu na arte é importante para quem vai fazer quadrinhos. Ajudou muito ter entrado em contato com a história e outras técnicas.