São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2000


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Alpinista de 17 conquistou o Aconcágua

AUGUSTO PINHEIRO
da Reportagem Local

Aos 17 anos, o alpinista Luiz Felipe Forbes tem um currículo de deixar muito veterano sem fôlego. A última conquista do moço foi o topo do Aconcágua (6.959 m), na Argentina, pico mais alto das Américas, que escalou enquanto todo mundo comemorava a virada do ano 2000.
"Eu sonhava com isso antes mesmo de saber o que era escalada em gelo. Agora sou o brasileiro mais jovem a ter conquistado a montanha", conta.
Mas, para chegar lá, Felipe ralou muito. Tudo começou quando ele tinha apenas 13 anos e resolveu escalar uma parede em um evento promocional. Gostou tanto que não largou mais: praticou escalada indoor durante um ano e chegou a participar de campeonatos. No final de 1996, fez um curso de escalada em rocha.
"Comecei subindo pelas rotas já abertas em montes localizados em Campos do Jordão, Bragança Paulista e Mairiporã (cidades do interior de SP)", conta.
O passo seguinte foi um curso avançado de escalada, em que aprendeu a abrir rotas (desbravar caminhos virgens, ainda não escalados). Hoje há várias delas batizadas por ele, como "Secos e Molhados" e "Teoria da Flexibilidade Móvel do Rabo da Lagartixa" -ambas na Pedra do Baú, em Campos do Jordão.
Em 1998, ele foi para Chamonix, na região dos alpes franceses, onde fez um curso de escalada em gelo e, junto com um grupo de alpinistas locais, escalou os montes Mont Blanc (4.880 m), Mont Blanc du Tacul (4.200 m), Ponta Isabella (3.000 m), Mont Maudi (4.200 m), Grand Jorasses (3.700 m) e Agulha do Midi (3.996 m). "Além das técnicas, a coisa mais importante que aprendi na França é que, mesmo com dez anos de experiência, os caras sabem que ainda estão aprendendo. No Brasil, basta ser alpinista por dois anos para ser considerado sênior", detona.
Com toda a experiência acumulada -que inclui ainda o curso de aspirante a guia na França-, Felipe dá aulas de alpinismo nas rochas de Mairiporã e Bragança Paulista. "Ensino não apenas a escalar. O aluno tem de saber armar a barraca, acender o fogareiro, fazer um planejamento, ter noções de primeiros socorros e meteorologia, entre outros assuntos."
Pensando na qualidade dos cursos, Felipe fundou o Projeto Escala Brasil, logo depois que retornou da França, que pretende criar um selo de qualidade para os instrutores do país. O site é http://pessoal.mandic.com.br/lipe.

Queimaduras no rosto
Na escalada do Aconcágua, ele formou equipe com o casal de alpinistas brasileiros Helena e Paulo Coelho. "Eles são superexperientes", elogia o rapaz. Foram dez dias de escalada até o topo, em um percurso, que, segundo ele, leva em média 20 dias.
A data escolhida, período do réveillon, tem condições climáticas mais favoráveis (que duram de dezembro a março). "Mesmo assim, a temperatura chega a -60C, e os ventos, a 120 km/h", lembra o alpinista.
Ele chegou a ter queimaduras de segundo grau no rosto, mesmo utilizando filtro solar com fator de proteção 60. "Conforme a gente vai subindo, vai cortando as atmosferas, o sol vai batendo direto, não há filtro. Além disso, há o reflexo do gelo", explica o alpinista. Durante as escaladas, ele come pratos instantâneos.
Ele frisa que não utiliza oxigênio nas suas aventuras "por questão de ética". "Fica muito mais fácil com esse recurso: a sensação é de que você está 3.000 m abaixo de onde você realmente está. Para o público pode não fazer diferença, mas isso conta muito lá em cima."
Como a maioria dos esportistas no Brasil, a atual batalha do alpinista não são as paredes de gelo, mas a busca por um patrocínio.
Entre os novos projetos de Felipe -que, até então, foi bancado pela família-, estão a montanha Ojos del Salado (a segunda maior das Américas, com 6.908 m), no Chile, e a face norte do Eiger, considerada a escalada mais difícil desse pico, que fica na Suíça. Garra não falta. "Gosto do desafio. Do projeto até a execução."


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