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Rapper usa ironia para quebrar a seriedade do gênero
De Leve introduz deboche no rap
RICARDO TIBIU
FREE LANCE PARA A FOLHA
Em tempos de murmurinho na cena
do rap nacional com o lançamento
de "Nada Como um Dia Após o Outro
Dia", dos Racionais MCs de São Paulo,
o Rio contra-ataca. Mais carioca que
Ramon Moreno de Freitas e Silva, vulgo
De Leve, impossível.
Assim como Mano Brown, ele também domina o microfone. E, se o discurso do mano do Capão Redondo, na
periferia de São Paulo, é altamente engajado e inflamado, o do "brother" de
Niterói (RJ) é outro.
O carimbo de deboche explícito estampado na capa do EP "Introduzindo:
De Leve", gravado com o DJ Castro e
lançado pela Tomba Records, não está
ali por acaso. De Leve diz ser "o típico
playboy branco morador da zona sul,
classe média falida". E que rima não só
para debochar de tudo o que julga ser
clichê -seja do próprio rap, seja da televisão- mas também para ver se vende discos e consegue comprar uma bicicleta nova.
E é esse o tom de suas letras. O EP
apresenta sete criativas e inusitadas
músicas. Nada de críticas sociais, onomatopéias de tiros ou discursos longos
sobre drogas, racismo ou machismo.
Fugindo do lugar-comum, a ironia é o
que impera. Em "Nego Gosta", a letra
dá uma zoada nos chavões do tipo "rap
na veia" e "é nóis na fita".
E o sistema? "Quero dizer que tá na
hora de mudar o que se fala, já que há
dez anos tem gente que fala disso", diz
De Leve. Ele acha que, se fosse mais ouvidos por outras pessoas, além do público do rap, talvez fosse possível mudar algo.
Sobre a reação do público tradicional
do hip hop, ele manda: "Tem uns que
me acham maluco, outros dizem que
sou comédia e que quero aparecer, mas
alguns acabam gostando". Em "Largado", ele inicia dizendo que "isso resume
a minha vida". E dispara uma metralhadora de sarcasmo narrando a história de um sujeito que não liga para a
aparência e, assim, envergonha a família, a vizinhança e a namorada. E o assunto de "Vai Vendo" é treta -não entre gangues, mas entre namorados-, e
o resultado é cômico. A espetacular "Eu
Rimo na Direita" tem um videoclipe repartido com "Som pra Pista". Esta última é do Quinto Andar, grupo que De
Leve fundou em 2000 com Marechal e
DJ Castro.
Na verdade, é uma galera espalhada
pelo Brasil, com DJs e MCs do Rio, de
SP e de MG, que merece atenção. Com
R$ 5, é possível comprar um CD pirata
em camelô, mas, se quiser comprar
música boa e original, guarde para gastar com o De Leve.
Ele ainda não conseguiu comprar a
tão sonhada bicicleta pelo descaso de
que é vítima. "Ninguém me convida
para fazer show pago; todos acham que
por ser underground tenho que tocar
de graça", diz. E conclui, demonstrando seu estilo: "Bicicleta fura muito o
pneu, uma vez estava longe de casa e
aconteceu isso. Preferi comprar um
skate, que não fura o pneu".
De Leve tem 21 anos, o rap underground, microfone na mão, um futuro
de rimas e muito esculacho pela frente.
Ainda bem.
(RICARDO TIBIU)
Contato: tuxedo@ig.com.br
www.quintoandar.cjb.net
www.tombarecords.hpg.com.br
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