|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OS LESADOS
Estudantes brigam pelo direito à meia-entrada; empresários alegam que a lei inviabiliza eventos
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
As filas que tomaram conta, nas últimas semanas, das bilheterias do
Credicard Hall para a compra da
meia-entrada do show da banda californiana Red Hot Chili Peppers são
apenas o caso mais recente das dificuldades que os estudantes encontram na hora de exercer o direito de
pagar 50% do valor do ingresso em
eventos culturais.
Não é de hoje que a lei da meia-entrada é foco de polêmica. A cada grande evento descobre-se uma maracutaia arquitetada por algumas empresas na tentativa de burlar esse direito
garantido por lei estadual desde 1992.
Vale tudo: promoções para ingresso
inteiro que não valem para estudantes, restrições de setor para a meia-entrada ou de local para a sua compra e
até cotas predeterminadas para portadores de CIE (Carteira de Identificação Estudantil), todas práticas ilícitas, segundo órgãos de defesa do consumidor, como o Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e o Idec (Instituto Brasileiro
de Defesa do Consumidor).
Quem perde?
Por um lado, sofrem os estudantes,
que precisam montar guerrilha para
fazer valer um direito, recorrendo ao
Ministério Público, ao Procon ou a
entidades estudantis, como grêmios,
centros acadêmicos, a UNE (União
Nacional dos Estudantes), a Ubes
(União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas).
Por outro, choramingam os empresários, alegando que pagam impostos
altíssimos e que a meia-entrada inviabiliza muitos espetáculos uma vez que
há shows com até 98% do público
composto por estudantes.
É difícil dizer quem perde mais. O
fato é que todos se sentem lesados.
A "solução" encontrada pelo empresariado para tornar viáveis seus
eventos foi aumentar o preço do ingresso integral, seja em shows, seja em
peças de teatro, seja em sessões de cinema. Na prática, um ingresso que
poderia custar R$ 30 é comercializado
por R$ 50 ou R$ 60. Isso quer dizer
que o estudante paga o valor quase inteiro do ingresso enquanto quem não
é estudante paga quase o dobro.
Âmbito federal
As leis que regulam a meia-entrada
são estaduais e municipais. A edição
de uma medida provisória, em agosto
do ano passado, pelo ministro da
Educação, Paulo Renato Souza, que
permite o uso das carteirinhas das escolas e da universidade como meio de
identificação estudantil e do RG para
jovens menores de 18 anos, era o precedente que faltava para que pipocassem controvérsias.
"A existência da lei é fruto de uma
luta estudantil de décadas", explica Jamil Murad (PC do B), autor da lei estadual paulista, eleito deputado federal
nas eleições do último dia 6. "Empresários importantes do setor da cultura
e do entretenimento primeiro tentaram impedir a aprovação da lei, depois tentaram anulá-la na Justiça e
agora buscam outros caminhos para
distorcê-la e para obter privilégios."
Para Murad, os estudantes deveriam mobilizar-se e batalhar pela
meia-entrada. "Quando há enfrentamento, é possível fazer com que o empresariado obedeça à lei."
Já para o presidente da UNE, Felipe
Maia, 24, há um problema de abordagem na questão. "O tempo todo parece que a briga é entre os estudantes e
os empresários. No entanto, a partir
do momento em que existe uma legislação sobre o assunto, a polêmica
transcende as duas partes envolvidas e
torna-se uma questão também do Ministério Público."
Texto Anterior: De Leve introduz deboche no rap Próximo Texto: Maratona da meia: Para comprar, foi preciso atravessar a cidade Índice
|