São Paulo, segunda, 15 de fevereiro de 1999

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O francês que faz do rock arte virtual


GIOVANA HALLACK
free-lancer para a Folha

Cantores distorcidos, figurantes congelados, músicos digitalizados. Em se tratando de videoclipe, o realismo -sem dúvida- está fora de moda. E os efeitos, quase sempre, acabam se tornando a essência de um trabalho. "O diretor sempre parte de um som e de uma idéia que ele não
sabe como realizar", explica um certo francês de 28 anos. "Mas que eu
sei", completa. Não é pretensão porque - apesar idade o artista gráfico
Seb Caudran já tem um currículo pra lá de pop. Ele foi responsável pela
manipulação de imagens de "Push it", do Garbage, um dos mais comentados
clipes do ano passado. O filme dirigido por Andrea Giacobbe - recebeu
oito indicações no Video Music Awards da MTV, inclusive a de melhores
efeitos especiais. Perdeu para "Frozen", de Madonna, mas com certeza fez a
banda vender muitos discos.
Seb esteve no Brasil na semana passada. Foi ao Rio de Janeiro tirar férias
e acompanhar o início das filmagens de um documentário francês sobre o o
carnaval e, por isso, acabou testando seu samba em festas animadas pelas
baterias da Mangueira e do Salgueiro. Foi além: chegou a ir no Garage - a
mais conhecida casa de shows alternativos da cidade. "Parecia que eu tinha
entrado dentro no filme Mad Max", comentou, assombrado com as dezenas de
motoqueiros que se estacionam nas proximidades da casa. Movido a um bom
suco de açaí, Seb Caudran conversou com o Folhateen sobre seu trabalho
que, além do Garbage, inclui parcerias com o Daft Punk, Method Men e até
Janet Jackson. E mais: são deles aquelas conhecidas vinhetas de
caleidoscópio do canal a cabo GNT.
A primeira paixão, ele lembra, não foi com a imagem em movimento: "Comecei
trabalhando com fotografia, fazendo colagens. Ingressei em uma escola mas,
três meses depois, desisti. Foi então que optei por uma faculdade de
cinema.", conta. E foi lá que começou a brincar de "ilusionismo", mas ainda
bem longe de um computador. "Fazia colagens e trucagens apenas com a câmera
e também animação com marionetes, quadro a quadro", explica. Até que um
certo dia, foi conhecer um estúdio de pós-produção. "Era só para visitar,
mas acabei ficando por lá três anos", recorda Seb, que é conhecido como o
"TGV da pós-produção ", uma alusão ao trem-bala e a rapidez com que
finaliza os vídeos. "O interessante, neste meio, é que você pode fazer um
bom trabalho mesmo com um pequeno computador, embora isso demore muito mais
tempo", comenta.
Mas o que o artista gráfico faz questão de ressaltar é que seu trabalho é
de criação e não o de um mero técnico em efeitos visuais. "Não se trata
apenas de operar máquinas. Muitas vezes, participo da própria concepção do
clipe e é um trabalho de parceria com o diretor", conta. Os efeitos ,
muitas vezes, acabam sendo criados "por encomenda". "Em Ladrão de Sonhos
(filme de Jean-Pierre Jeunet, o diretor de "Delicatessen"), trabalhava na
produtora que desenvolveu um programa especialmente para produzir
determinados efeitos para aquele filme", explica. "Isso é fantástico, pois
certas vezes podemos trabalhar diretamente com quem elabora os programas
de software." Mas a criação vai além. Um artista gráfico pode até
coreografar uma dança. De bailarinos digitais, claro. Foi o que aconteceu
no clipe "Mothership recconection" remix de uma música do Funkadelic/Parliament feito pelo Daft Punk. "Queríamos que os bonecos digitalizados
dançassem como nos "Embalos de Sábado a Noite" e eu mesmo a criei a
coreografia, bem discoteque e bem ridícula", diz. Não foi a única vez que
trabalhou com o grupo. O novo home-video do Daft-Punk tem créditos de
abertura assinada por Seb, que cita como diretor preferido Chris
Cunningham. "Ele dirigiu o último de Madonna e também o clipe de animação
'Come to daddy', do Aphex Twin", lembra Seb, que acha que o mercado de
clipes tem altos e baixos. "Muitas vezes, é como se você estivesse fazendo
cinema. Em outras, é apenas um trabalho comercial."



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