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ESCUTA AQUI
Tennessee, Campinas e a ira dos fãs do Coldplay
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Surge uma luz para explicar o mistério que
liga duas jovens bandas, uma de Campinas
(SP), outra do rural Tennessee (EUA). Pode
ser plágio, pode ser coincidência ou pode ser
simples inspiração.
Para quem não tem a paciência de acompanhar esta coluna toda segunda, aqui vai um
resumo da história, já presente em "Escuta
Aqui" há três semanas (se você já conhece,
pode pular para o quarto parágrafo).
É que o pessoal da banda campineira JôSDa
(nome esquisito) escreveu para "Escuta
Aqui" relatando
uma estranha semelhança entre uma
canção deles, "Dofaro", composta há
três anos, e "Molly's Chambers", dos Kings of
Leon, banda novíssima e queridinha de críticos de todo o mundo. O CD dos KoL saiu no
Brasil. A música do JôSDa está no site deles:
www.josda.kit.net. As canções são mesmo
muito parecidas. Mas como os KoL poderiam
conhecer o som dos brazucas?
Agora, o leitor Bruno Bueno Spanghero
(São Paulo, SP) manda e-mail para dizer que
matou a charada. Segundo ele, "Dofaro" e
"Molly's Chambers" têm uma mesma, digamos assim, matriz: a canção "My Girl Josephine" (1960), do pioneiro do rock Fats Domino.
Mais precisamente, a versão de "My Girl Josephine" gravada pelo jamaicano Supercat e
que foi tema do filme "Prêt-à-Porter" (de Robert Altman, 1994).
Ainda de acordo com o Bruno, esse cover
feito pelo Supercat teve relativo sucesso e tocou bastante nos canais de música. Segundo
essa teoria, seria daí que a rapaziada de Campinas e os capiaus do Tennessee teriam tirado
sua inspiração.
Ouvi as três e não dá para negar que
"Molly's Chambers" e "Dofaro" são basicamente idênticas. Já a gravação do Supercat
tem andamento mais lento (de reggae), arranjo com instrumentos de
sopro... Existe semelhança, mas não
tão óbvia por causa das diferenças de
gênero musical.
Seja qual for a resposta, o fato é que
essa história é sensacional, e "Escuta
Aqui" agradece muito ao pessoal do
JôSDa por ter levantado a lebre.
Como era de esperar, a caixa postal
entupiu na semana passada por causa
da coluna da última segunda-feira,
que comentava pouco favoravelmente o show do Coldplay em São Paulo.
Quando fiz o texto, achei que estava
bem equilibrado. Ao mesmo tempo
em que deixei claro meu desagrado
(saí no meio da apresentação), expliquei que meu ponto de vista era exceção, já que as 6.000 pessoas presentes
estavam em delírio absoluto.
Mesmo, assim, dezenas de fãs do
Coldplay escreveram furiosos, caprichando no rol de ofensas. Existe um
paradoxo engraçado nessa história:
quanto mais "bonito", "sensível" e
"delicado" o som de um artista, mais
grosseiras são as reações de seus fãs
contra quem não gosta deles.
Se critico o Iron Maiden, por exemplo, não recebo 10% das grosserias
que baixam em minha caixa postal
quando tiro uma onda, por exemplo,
com Djavan, Marisa Monte, Coldplay
ou outro artista "inteligente".
Acho que isso explica um monte de coisas,
mas vou parar por
aqui porque não quero
confusão.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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