FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Urbália", segundo disco do trio de hip hop Mamelo Sound System, versa sobre a geografia e a fauna de uma grande cidade. Sobre os viadutos, as praças e os muros grafitados, sobre o movimento frenético e incessante de máquinas e de gente, sobre a grana (ou a falta dela) e sobre a diversão do rolê e das baladas.
Em 11 das 14 faixas que compõem o disco (três delas são instrumentais), os MCs Rodrigo Brandão e Lurdez da Luz fazem as vezes de cronistas do concreto e cantam não só o caos urbano mas também seus encantamentos. É o que o Mamelo -cujas bases são obra do terceiro integrante, Alexandre Basa- chama de "cidade ácida", lisérgica e corrosiva ao mesmo tempo.
"E digo ácida como a chuva que cai e corrói/ Corrói a cabeça desprotegida do playboy, motoboy, b-boy e todo tipo que transita nessa porra/ Habita mansão, prédio ou palafita e forma a teia esquisita que se chama São Paulo", cantam eles na faixa "Cidade Ácida".
"A gente enxerga esse disco como um filme. E esse filme é sobre a vida de gente da classe trabalhadora, que tem de batalhar, que anda na rua e que vive em um grande centro urbano no início do século. Nossa diretriz foi traduzir a cidade", diz Brandão.
E o resultado, por incrível que pareça, é otimista, sem ser alienado, e curioso. "No hip hop, a galera privilegia o lado mais difícil da vida. E a gente quis ver o outro lado, o da diversão. A vida não é só treta", decreta o MC.
Se, em seu primeiro disco, o Mamelo optou pela fartura melódica e por um grande número de participações especiais, neste segundo álbum o grupo economizou nas pirações sonoras para investir na rima e minguou o número de convidados. Mas o trio mantém a mistura de rap, dub, funk e jazz, mesmo que mais sutil.