São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2004

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Entortando o 900º

Divulgação
Sandro Dias em uma de suas manobras


VANESSA DE SÁ
FREE-LANCE PARA O FOLHATEEN

O site internacional dos X Games diz "quando o sorridente brasileiro sobe na rampa, ele se enche de energia e voa mais alto do que praticamente todo mundo". O tal sorridente é nada menos do que Sandro Dias. Ou, como é conhecido por "praticamente todo mundo", Mineirinho. O apelido vem a calhar. Com jeito manso, tranqüilo, o quase trintão de Santo André conseguiu há pouco menos de dois meses se consolidar como campeão mundial de skate vertical.
Ou melhor, como bicampeão. Mineirinho entrou para a história como o terceiro do mundo a executar uma manobra que parece desafiar as leis da física -o 900, ou seja, dois giros e meio no ar. A façanha só tinha sido realizada pelo mito do skate, o norte-americano Tony Hawk, e pelo italiano Giorgio Zattoni.
O brasileiro, no entanto, resolveu dar uma "dificultada" no 900. Deu mais de dois giros de "backside", quer dizer, segurando o skate por trás, tornando-se o primeiro do mundo a realizar a manobra.
Em turnê pela Ásia, Sandro Dias conversou, por e-mail, com o Folhateen.

 

Folhateen - O começo de tudo foi....
Sandro Dias -
Comecei aos 11. Como eu não tinha skate, eu e um amigo de infância pegávamos o skate do irmão dele e colocávamos um pneu de carro em cima. Um sentava dentro e o outro empurrava. Nessa época, ganhei um skate de Natal. Era a época em que o skate estava começando a aparecer, por volta de 1986. Comecei do nada, batendo de um lado para o outro, caindo e evoluindo. Aprendi umas manobras básicas e passei a freqüentar um "half pipe" (pista em formato de "u") perto de casa.

Folhateen - E o primeiro campeonato?
Sandro -
O primeiro foi um campeonato de "street". Era o competidor mais novo e fiquei em oitavo. Acho que esse foi um campeonato muito importante para mim pois conheci e vi outros skatistas melhores do que eu e queria ser igual a eles. Eu queria treinar mais para me dar melhor. Foi o que aconteceu. No segundo campeonato de que participei, fiquei em segundo.

Folhateen - Quando participou pela primeira vez de um evento internacional?
Sandro -
Em 88, eu tinha 13 anos, fui para a Califórnia sem meus pais, só com mais dois amigos, para treinar e conhecer algumas pistas. Foi um grande impulso na minha carreira, pois eu tive oportunidade de conhecer o verdadeiro mundo do skate que era a Califórnia. Em 89, fui mais uma vez para lá e participei de um Mundial, na Alemanha. Na época eu era um amador, mas participei como profissional. Foi sensacional, conhecer e competir com todos aqueles skatistas que eu só via nas revistas e em vídeos importados.

Folhateen - Você surfou também?
Sandro -
No começo dos anos 90 o skate desapareceu. Não havia mais pistas para treinar, as que existiam não tinham condições, não havia mais eventos para participar. Eu sumi junto. Comecei a me dedicar a outras coisas, como surfar. Para mim, nessa época, skate era uma coisa boa que havia passado.

Folhateen - E quando voltou a se dedicar ao skate?
Sandro -
Em 95 fiquei sabendo que ia acontecer um campeonato profissional no shopping Center Norte, em São Paulo. Os profissionais dessa época eram os meninos que competiam comigo quando era amador. Decidi revê-los, levei meu skate antigo em meus equipamentos para tentar dar uma volta se surgisse uma oportunidade.
Acabei revendo a galera e competindo. Fiquei em quinto. Foi aí que me interessei de novo pelo skate. No ano seguinte, em 96, já estava participando de algumas etapas do Mundial que acontecem na Europa.
Em 99 comecei a freqüentar mais os eventos nos EUA e participei pela primeira vez dos X Games e Gravity Games. Terminei o ano entre os top 20. Em 2000, terminei o ano entre os top 10. Em 2003, participei de muitas competições. Ganhei oito e conquistei o título mundial e o de bicampeão europeu. Neste ano fui bicampeão.

Folhateen - Você passou alguma dificuldade?
Sandro -
Passei, principalmente em viagens, por não saber me comunicar direito e não ter onde dormir. Me virava da maneira que dava, sempre me divertindo, mas eu sempre fui uma pessoa que nunca gostou de pedir nada para ninguém, sempre fiz as coisas com meu próprio esforço.

Folhateen - Como os skatistas estrangeiros te vêem?
Sandro -
Acho que eles gostam da maneira como eu ando de skate. Para mim, qualquer terreno e hora está bom. Não sou muito de ficar reclamando. Vou lá e tento fazer.


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