São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2004

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CINEMA

Marionetes tiram uma onda da luta do governo norte-americano contra o terror

Bonecos de destruição em massa

GUILHERME COUBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Além do bem, do mal, das diferenças culturais e do bom gosto paira apenas uma coisa: a tiração de sarro. É essa a filosofia de "Team America - Detonando o Mundo", que deve estrear no Brasil em dezembro. E tudo fica claro logo na primeira cena.
Em um dia de sol em Paris, um garoto esbarra um picolé nas costas de um árabe. Furioso, o árabe se prepara para detonar uma arma de destruição em massa. Então, entra em cena o Team America. Com helicópteros, caças e tanques, eles chegam para salvar o mundo de mais um atentado terrorista. Depois de derramar muito sangue, o Team America realmente acaba com os terroristas. E também com a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e o Louvre.
Dos mesmos criadores de "South Park", Trey Parker e Matt Stone, "Team America" faz jus ao humor espalhafatoso do seriado de TV. As gargalhadas arrancadas da platéia vêm ou do tradicional apego da dupla à escatologia (há, por exemplo, uma cena de vômito que se alonga por trinta segundos), ou do fato de marionetes executarem ações incomuns no mundo das marionetes (o par romântico do filme transa loucamente, em todas as posições possíveis).
Aquele tratamento impiedoso dispensado ao mundo das celebridades em "South Park" também se repete agora. Os atores Matt Damon e Alec Baldwin e o cineasta Michael Moore, só para citar alguns, são caricaturados sem o menor pudor. O diretor de "Fahrenheit 11 de Setembro" aparece sempre lambuzado de mostarda, um cachorro-quente em cada mão e gritando absurdos.
Mas um dos personagens mais engraçados não vem de Hollywood. É o imperador da Coréia do Norte, Kim Jong Il. Com seu inglês macarrônico dublado por Parker (que também faz a voz do Cartman de "South Park"), Kim Jong Il tem um plano diabólico. O vilão distribui armas de destruição em massa para diversos terroristas e organiza um ataque fulminante que acabará com o planeta. Tudo porque ele é um homem sozinho e incompreendido.
Para salvar o mundo, o Team America contrata um ator da Broadway (a estrela do musical "Lease"). Usando o "poder da interpretação", sua missão é se infiltrar no submundo terrorista e descobrir os ataques antes que eles aconteçam. O resto é muita explosão e esculhambação (nem o inspetor da ONU Hans Blix fica impune).
Com um bom time técnico (a fotografia é de Bill Pope, responsável por "Matrix" e "Homem-Aranha 2"), "Team America" tem cenários ricos e detalhados. Mas o clima amador, testado e aprovado nos desenhos toscos de "South Park", também é simulado nesse longa-metragem. Os fios das marionetes aparecem o tempo todo e as cenas de luta são hilárias de tão malfeitas.


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