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Celebridades vivem num mundo muito louco
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
O Metallica só consegue gravar seu novo álbum, "St. Anger", na presença de um terapeuta de grupo, que impede os músicos de se
trucidarem no estúdio.
Thom Yorke, do Radiohead, chega atrasado
a uma entrevista porque precisou parar tudo,
no meio do dia, para fazer ioga. "Eu estava me
sentindo meio esquisito", justifica-se.
O rapper inglês Mike Skinner, conhecido
como The Streets, vai a uma festa em uma cobertura em Miami Beach, onde estão disponíveis praticamente
todas as drogas conhecidas pelo homem. Diligentemente, Streets encarrega-se de consumir todas. A festa
acaba às 8h36.
São três histórias
que envolvem famosos, lidas em uma mesma revista, a americana
"Spin". E que fazem a gente se sentir ridículo
por tentar saber da vida dos nossos artistas
preferidos ou tentar entender o que eles querem dizer com determinada música ou livro
ou filme.
Porque, é claro, Metallica, Thom Yorke, The
Streets e outras celebridades vivem em um
comprimento de onda totalmente diferente
do nosso. Num universo paralelo, em que sexo, drogas e dinheiro (rock and roll é acessório) existem em quantidades muito além de
qualquer sonho de normalidade.
Tudo isso me faz lembrar um documentário
a que assisti na TV americana sobre a história
dos Red Hot Chili Peppers. A edição, muito
caprichada, mostrava, em sequência, várias
entrevistas de Anthony Kiedis, líder do grupo,
depois do lançamento de cada álbum.
Era sempre a mesma história: a cada lançamento, ele vinha com um papo de que "no
nosso disco anterior, estava tudo muito tumultuado, mas agora entramos nos eixos, então este é um álbum centrado, a gente está
muito família, limpamos nosso organismo
etc. etc. etc."
Até que vinha o disco seguinte, e ele mandava a mesma conversa mole: "Agora, sim, estamos centrados, sossegados e gravamos um
disco com nossas cabeças no lugar. Porque
antes não dava, era muita loucura piriri pororó...".
Deu para entender? Claro que nem hoje,
nem ontem, nem nunca vai estar tudo "normal" na vida dos Red Hot Chili Peppers. No
universo à parte habitado por essas megacelebridades, também os parâmetros do que é ou
não "normal" estão estilhaçados.
Para uma figura dessas, diminuir o consumo diário de três garrafas de vodca para duas
e meia já é algo que seria anunciado em entrevistas como "estamos chegando a um novo
estado de sobriedade" ou qualquer coisa que
o valha.
Sem querer dar uma de teórico da conspiração, não há como, aqui de fora, a gente ter
idéia de quanto dinheiro, poder e influência
está em jogo em cada linha de notícia que o
grande público recebe sobre suas celebridades preferidas.
Elas estão em outra. Não estão nem aí
para nós.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br.
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