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Exagero no volume pode danificar a audição para sempre
Inimigo silencioso
Fabiana Beltramin/Folha Imagem
![](../images/t1609200201.jpg) |
Marcelo Ichimura, que toca bateria em uma banda hardcore e vive grudado em seu walkman |
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelas ruas, você segue de walkman com o
volume no talo. Em casa, sua mãe e seu
pai vivem gritando para você abaixar o som. Na
balada, com a música bombando, você se posiciona estrategicamente em frente às caixas para
sentir o corpo todo tremer a cada batida. Se for a
um show, prefere ficar colado no palco.
Tudo bem que ouvir música baixo muitas vezes
não tem graça, mas você já parou para avaliar se
não anda exagerando?
Nos EUA, uma pesquisa do Centro para Controle e
Prevenção de Doenças detectou que cerca de 5 milhões de jovens apresentam alguma perda de audição
causada por concertos de rock, fogos de artifício ou
cortadores de grama.
O aparelho auditivo suporta ruídos com frequência
de até 85 decibéis, o que equivale ao barulho de uma
avenida com tráfego pesado. O som de walkmans mais
modernos, o do ambiente fechado de uma danceteria e
o de um show de rock podem atingir 115 dB (decibéis).
Como se não bastassem os hábitos sonoros dos jovens,
nos últimos dez anos, o ruído urbano de cidades grandes
como São Paulo aumentou cinco decibéis. Com tudo isso,
a deficiência auditiva está deixando de ser exclusividade
dos seus avós -que agora correm o risco de ter de dividir
os "o quês?" e "hãs?" com seus netos.
"Tenho uma previsão que soa alarmista: a geração de jovens tende a ser surda", alerta Arnaldo Guilherme, 51, professor de otorrinolaringologia da Unifesp.
Zunzunzum
"Não existe matemática certa. O tempo de exposição e a
intensidade do ruído que pode afetar a audição depende da
resistência de cada um. No entanto, o sujeito que se submete
a ruídos intensos, seja por um minuto, seja por horas seguidas, está correndo o risco de sofrer um trauma auditivo",
explica o otorrino João Carlos Chazanas, 43.
"Costumo brincar que o ruído é um "inimigo silencioso"
porque seus efeitos não se apresentam imediatamente", explica Guilherme. Segundo o médico, se o jovem ficar com
um zumbido ou com uma pulsação nos ouvidos quando
sair da discoteca ou de um show, pode estar certo de que
houve lesão. "Tenho uma coleção razoável de pacientes
roqueiros e todos apresentam perda auditiva. O pior é
que essas lesões são irreversíveis."
Ricardo Bento Ferreira, 48, chefe do Departamento de
Otorrinolaringologia da USP, explica que o barulho nem
precisa ser altíssimo para provocar danos ao organismo.
Um som indesejado, mesmo baixo, gera estresse, aumenta a pressão sanguínea e as chances de a pessoa desenvolver doenças cardiovasculares.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, a única forma de prevenir a perda de audição é a orientação. "O jovem deve tentar ser comedido
no volume do som. Deve usar o walkman em um volume médio. Pode ir para a balada, mas não deve ficar muito próximo à caixa de som", ensina Artur
Augusto, 42, médico da sociedade.
A título de curiosidade, o Folhateen levou
Guilherme Lopes Rodrigues, 21, DJ do Drummagick, o baterista da banda de hardcore 7 I
Lie, Marcelo Ichimura, 21, o motoboy Robson
Carvalho, 19, e a estudante Mariana Lorenz
Santos, 14, para um teste audiométrico.
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