São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

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CINEMA

Para atrair garotas, indústria de filmes deixa de apostar em tramas açucaradas

Elas cansaram de ser boazinhas

STEPHANIE ZACHAREK
DO "NEW YORK TIMES"

Numa inesperada vitória das malhas cor-de-rosa sobre armas e explosões, dois dos três filmes de maior bilheteria nos EUA são histórias sobre garotas adolescentes. "Hoje 13, Amanhã 30", de Gary Winick ("13 Going on 30", com estréia no Brasil prevista para 6 de agosto), e ""Meninas Malvadas", de Mark Water ("Mean Girls", com estréia prevista para 9 de julho), são histórias espirituosas sobre adolescentes desajeitadas que, em suas tentativas de serem vistas como bacanas, abrem mão da ética e da decência.
A grande atração tanto de "Hoje 13, Amanhã 30" quanto de ""Meninas Malvadas" é que, em vez de trazerem heroínas inocentes, os filmes nos mostram o que acontece quando garotas boazinhas se tornam temporariamente más. Os filmes reconhecem que, às vezes, o caminho para chegar à decência adulta implica entrar em contato com sua megera interior.
É uma mudança enorme dentro do gênero dos filmes para e sobre garotas teens. Até agora, as produções do gênero eram quase enjoativas, comédias retrorromânticas boazinhas sobre garotas que se apaixonam por bonitinhos e os acabam conquistando. Neles, as heroínas não enfrentavam os problemas das garotas comuns na vida real. São exatamente essas preocupações das adolescentes que movem os dois filmes mais recentes.
Em "Meninas Malvadas", Lindsay Lohan é Cady, uma garota de 15 anos que passou a infância na África. É ingênua e cai de pára-quedas no novo colégio, chegando a se perguntar se a selva não era um lugar mais civilizado do que a escola. Ela é seduzida pela panelinha das garotas "cool", conhecidas como as "plastics".
Ao ascender à pirâmide do status social na escola, ela, que era um ás em matemática, "emburrece" de propósito, trai a lealdade de colegas e envolve sua professora de matemática em uma mentira que pode acabar com sua carreira.
Em "Hoje 13, Amanhã 30", Jenna, uma garota doce e desajeitada, quer de qualquer maneira ser aceita pelas garotas "cool" de sua classe. Desesperada, deseja já ter deixado a adolescência completamente para trás. Graças a um pó mágico, de repente se vê dentro do corpo adulto e esbelto de Jennifer Garner.
A versão de Jenna aos 30 anos é uma poderosa editora de revista feminina que mora num belo apartamento em Manhattan e tem um namorado que é um atleta lindo. Mas, para virar essa adulta que "deu certo" na vida, ela não agiu como uma pessoa muito legal. Em segredo, vendeu as melhores idéias de sua revista a uma publicação concorrente e se distanciou do único amigo de adolescência que realmente a entendia.
Perto do final do filme, porém, acontece uma coisa estranha: a história se trai, e a fábula sobre preservar a própria individualidade vira uma fábula sobre os perigos da ambição.
Graças mais uma vez ao prático pozinho mágico, Jenna consegue voltar aos 13 anos. Não ficamos sabendo exatamente o que ela faz de diferente dessa vez, mas o fato é que ela acaba se casando com o amigo do qual teria se distanciado e os dois vão morar numa linda casinha cor-de-rosa.
Já o que torna "Meninas Malvadas" interessante é que, apesar do aspecto bonzinho, o filme conserva sua insolência. Apesar de pregar a aceitação, o filme lança farpas hilárias contra todos os espécimes comuns na população colegial, de alunos gordos a atletas fissurados, passando por lésbicas rebeldes, professoras de matemática desajeitadas e pais que fazem de tudo para agradar aos filhos.


Tradução de Clara Allain


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