Clipe de Moby dispensa pretensão e faz homenagem comovente à música pop

Um menino e seu cachorro vivem tristes em um microplaneta. Tristes não é propriamente a palavra: vivem entediados. Senão por outro motivo, porque o planeta é tão pequeno, mas tão pequeno, que eles dois mal cabem ali.
Um belo dia, surge do nada um carrinho desses de pedreiro carregar cimento. O carrinho é também uma nave espacial, e nela a dupla embarca à procura de emoção. Desviando de asteróides, sem grande entusiasmo, o garoto e o cãozinho chegam à Terra, onde o bicho rapidamente encontra uma companheira.
O garoto busca amigos, mas só recebe flechadas no nariz e a indiferença dos outros jovens, que brincam num parque. Dá um beijo triste numa menina, reencontra o bicho de estimação, janta sozinho, vai para a cama sozinho.
Em resumo, assim é o vídeo da linda canção "Why Does My Heart Feel So Bad?", de Moby, um simples desenho animado. Não sei se o clipe passa no Brasil. Nem é muito novo. Tem um ano, mais ou menos, e o vi pela primeira vez há poucas horas, quando notei que o CD que eu escutava trazia o vídeo como bônus.
Imediatamente, lembrei-me dos primeiros clipes brasileiros. Em um, um helicóptero voava sobre a cabeça de Ney Matogrosso, no "Fantástico" de antigamente. Em outro, anos depois, o Legião Urbana andava pelo túnel da 9 de Julho, em São Paulo.
A memória avança no tempo, para quando os diretores locais aprenderam a técnica e passaram a fazer videoclipes "artísticos", em preto e branco, com gente sofrendo, fazendo expressões pensativas. Tudo com imagens brumosas e estética de comercial de salsicha (música, publicidade e cinema brasileiros são faces diferentes de um mesmo objeto disforme).
Hoje, no Brasil, os clipes ainda são um forte instrumento de divulgação (até mais do que nos EUA, onde a MTV quase não passa mais vídeos e o canal M-2, só de clipes, não faz parte dos pacotes básicos de TV a cabo). E todos têm uma "mensagem", ainda que esta seja uma suposta despretensão. Muito triste.
"Why Does My Heart Feel So Bad?" é o oposto disso tudo. Traz desenhos minimalistas em cores básicas, conta uma história sem firulas de animação. Trata-se de uma comovente homenagem de Moby ao universo da música pop, por onde nós, ouvintes, viajamos em busca de companhia ou apenas de uma bela canção.



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