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ESTANTE
Coleção de cartões-postais resgata a São Paulo antiga
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA
No livro quatro da "República", de Platão, um aluno
pergunta a Sócrates até que ponto pode crescer uma
cidade. Ele responde: "Até onde puder aumentar permanecendo unida".
Corte rápido para São Paulo, esta de nossos dias. Experimente refazer a pergunta. Olhe para os lados tentando ver o limite das coisas e teste a hipótese do velho
sábio sobre crescer e permanecer unida. Dá um certo
pânico enxergar a amplidão ocupada por gente igualzinha a todos nós, querendo trabalhar e ser feliz.
Não tem jeito, a cidade grande de nossa época é isso
mesmo, um mar de gente, casas e prédios, espaços ocupados, poucas frestas. Conta de 50 mil pessoas é quase
nada, platéia de futebol. Quando penso em cidade
imensa, sempre penso em como funciona a cabeça de
um motorista de táxi, obrigado a saber movimentar-se
no labirinto, que para nós é um mistério.
Mas, no fundo, parece sempre restar um coração, um
núcleo, um fundo histórico que, de alguma maneira,
confere sentido ao conjunto. Algo que faz a gente pensar em São Paulo como sendo uma coisa única.
Agora, João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo resolveram coletar cartões-postais e álbuns de lembrança sobre um pedaço dessa história, entre 1862 e 1954. O resultado é um belíssimo volume, "Lembranças de São Paulo", que ajuda os paulistanos a entenderem como a cidade veio se fazendo na geografia e na história.
Trata-se de uma viagem por cenários, paisagens e rostos na maior parte engolidos pelo tempo, dos interesses
e das necessidades. Casas de taipa, mansões luxuosas,
prédios mais e mais altos. As velhas ruas, soterradas debaixo de camadas sucessivas de novidade. Pátio do Colégio, rua Direita, ladeira do Acu (hoje av. São João),
Tanque do Zuniga (atual largo do Paissandu), rua das
Casinhas, depois ladeira do Palácio e rua General Carneiro. Um precioso mapa da cidade em 1877.
Tudo isso é pouco para quem olha com afeto o lugar
em que vive. Mas é o bastante para despertar a sensação
de que pertencemos a uma agrupação humana que faz
sentido e que vale a pena conhecer.
E-mail: fischerl@uol.com.br
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