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GRRRL
Garotas nervosas porém divertidas
Le Tigre defende engajamento com senso de humor
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Kathleen Hanna, ex-líder
do Bikini Kill, banda ícone do
movimento "riot grrrl" dos anos 90,
resolveu atenuar sua paranóia didática e panfletária e assumir que diversão fazia parte de sua ideologia,
surgiu o Le Tigre.
O trio nova-iorquino reuniu ainda a videomaker Sadie Benning (depois substituída pelo andrógino DJ
Samson) e a produtora de fanzines
Johanna Fateman em uma cruzada
musical engraçada, inteligente,
punk, retrô e, é claro, política. "Le
Tigre", o álbum de estréia, é a trilha
perfeita para qualquer festa caseira
e chega agora ao Brasil. Música engajada e feminista sem perder o senso de humor.
"Já houve muito conflito. Os homens se sentiam ameaçados com a
nossa atitude. Mas o Le Tigre não é
só para garotas. Mas, sim, especialmente para elas", disse Johanna,
por telefone, ao Folhateen. Leia, a
seguir, trechos da entrevista.
Folha - Como montar uma banda
com uma videomaker, uma produtora de fanzines e uma riot grrrl?
Johanna Fateman - Bem... (risos)
Somos muito amigas e temos interesses e idéias em comum a respeito
de cultura underground, feminismo
e arte experimental. Nossa reunião
aconteceu não só pela música mas
por uma sensibilidade compartilhada. Como nossa proposta se tornou
musical, conseguimos descobrir
uma série de metáforas musicais para idéias visuais e literárias.
Folha - Por que adotaram uma estética new wave?
Johanna - O new wave foi uma
grande influência para nós. Os movimentos punk e new wave permitiram às mulheres transgredir tradições machistas. E nós fomos formadas por esses dois elementos. O forte
da banda é o experimentalismo com
instrumentos eletrônicos.
Folha - Por que misturar ativismo
político com música?
Johanna - Para nós isso não é uma
escolha, mas um reflexo de quem
somos. É isso o que faz sentido para
nós e é o que queremos fazer.
Folha - Como administrar cólera ativista e senso de humor?
Johanna - É difícil. As pessoas
acham que música política deve
soar agressiva e raivosa. Para nós,
ser político é ser multidimensional e
criativo, é ter humor e construir
uma linha de comunicação. É importante mudar esse estereótipo.
Folha - Quais são as intenções do Le
Tigre ao tratar de feminismo?
Johanna - Partimos do princípio de
desmitificação da música e da participação de mulheres, para que elas
sintam que são parte da cultura contemporânea e que devem tomar seu
espaço e seu público. Queremos inspirar outras mulheres a fazer música
e a experimentar artisticamente. O
mundo pop não tem proporcionado
ao público algo verdadeiro, e é isso o
que queremos. Fazemos as músicas
que gostaríamos de ouvir.
Folha - Quais são as preocupações
do feminismo no mundo atual?
Johanna - Na verdade, acho que as
questões não mudaram muito nos
últimos 30 anos. Ainda estamos lutando por coisas básicas.
Folha - A mensagem feminista do Le
Tigre pode ter grande alcance em um
país conservador como o Brasil?
Johanna - Sexismo existe em todos
os países. O fato de ele ser expresso
de forma mais intensa em alguns lugares é sempre desencorajador para
as mulheres. Fica difícil desenvolver
auto-estima. Se olharmos para a estrutura do sexismo, veremos que ele
é igual em qualquer lugar. Expressão de sexismo, homofobia ou preconceito racial é sempre horrível e
desencorajador para os jovens, que
se sentem isolados. Mas é difícil...
Não sei muito sobre o Brasil.
Folha - O que você sabe?
Johanna - Bem, sei que é um país
latino-americano...
Folha - É um começo.
Johanna - (risos) Soube que temos
fãs aí e fiquei muito surpresa. É incrível! Espero tocar no Brasil logo.
Folha - Como são seus shows?
Johanna - Ah, são muito divertidos. Nosso público normalmente é
composto por 70% de mulheres. E
as pessoas dançam muito.
Folha - No Brasil, a pequena cena de
bandas feministas é bem próxima do
universo gay. Como é em Nova York?
Johanna - De certa forma, é assim
também. O feminismo está ligado à
cena lésbica conceitualmente. Ser
uma mulher oprimida tem a ver
com um determinado comportamento sexual. Muitas de nossas fãs e
amigas são lésbicas. Por outro lado,
a cena indie, que é basicamente heterossexual, tem estado muito próxima de nós. Temos os dois.
Folha - Uma canção do Le Tigre chama o prefeito de NY, Giuliani, de
"bundão". O que mudou depois de 11
de setembro?
Johanna - Em 11 de setembro, Giuliani agiu com compaixão e competência. Muita gente passou a confiar
nele. Estamos felizes por ele ter sido
um bom líder, mas isso não muda o
fato de ele ter formado um departamento de polícia racista e brutal.
Nada muda o fato de ele ter arruinado a cidade por oito anos.
Para ouvir músicas do Le Tigre, ligue para:
0/xx/11/3471-4000 e escolha as opções Música - Pop. Custo, só o da ligação.
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