São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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Falar sobre o preservativo torna o uso mais fácil

CÉLIA ALMUDENA
da Reportagem Local

A relação sexual envolve duas pessoas, então ambas são responsáveis pelas questões que abrangem a camisinha, inclusive as encanações. As meninas podem ajudar os parceiros a resolver as paranóias que pintam, e vice-versa.
Se a encanação é sobre quem deve trazer o preservativo, a hora certa de colocá-lo ou como colocá-lo, fica mais fácil resolver o problema a dois.
"Não pode simplesmente ir transando sem ter conversado. É legal fazer um sexo verbal porque em alguma hora os dois vão acabar falando de camisinha", diz a psicóloga Rosely Sayão.
No caso das meninas, o principal problema é que a nossa sociedade ainda é muito conservadora. "A idéia de que sexo é coisa de homem está muito presente", diz Rosely. E isso faz com que as garotas tenham dificuldade de enxergar que as decisões que envolvem o sexo, como usar camisinha, por exemplo, devem ser tanto delas quanto deles.
"As meninas acham que quando transam estão fazendo algo errado, que não deveriam estar fazendo. Isso causa sentimento de culpa", diz Rosely.
E sentir culpa, segundo ela, é o primeiro passo para deixar a camisinha de lado na hora da transa. "Parar para colocar o preservativo significa admitir que está transando, e isso nem sempre é fácil encarar."
Para a psicóloga, uma das formas de superar essa encanação é percebendo que, às vezes, ter dificuldade de lidar com a camisinha não é culpa da garota. "Isso depende da educação que os pais dão e da própria sociedade."
As gozações de um vendedor da farmácia revelam o preconceito da sociedade. Aliás, os adultos também ouvem piadinhas. "Vai demorar um tempo para derrubar esse preconceito", diz a psicóloga.
A pergunta é: "Avisar a parceira, na hora H, que vai colocar ou simplesmente pôr sem tocar no assunto?". "Não existe uma regra. Cada momento é um momento. Não tente programar uma atitude antecipadamente", diz o ginecologista Malcolm Montgomery.
Rosely propõe que se você não tem intimidade com a pessoa, fique atento para perceber o que é melhor no momento. Mas o ideal ainda é combinar antes de começar a transa.
Tanto as garotas como os garotos que participaram do bate-papo com o Folhateen mostraram que vêem a camisinha, principalmente, como um método anticoncepcional. Deram pouca ênfase para o preservativo enquanto forma de proteção contra doenças. O perigo mora aí.
Se a camisinha é colocada apenas na hora da penetração, visando evitar a gravidez, você fica exposto às DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), pois algumas são transmitidas apenas por contato.
Saber o tamanho adequado do reservatório para o esperma deve ser o menor problema dos meninos. O que importa é não deixar ar entre o pênis e a camisinha. Como é elástica, ela vai suportar a quantidade de esperma que for, garantem os especialistas.
Se o cara fica ofendido porque a garota pede para ele colocar a camisinha ou se acha que ela é vadia porque traz a dela na bolsa, está delirando.
"Hoje em dia, garota com camisinha é responsável, prevenida, portanto, não é roubada. E se a garota não pede para o garoto colocar, é porque não pediu para nenhum outro. É uma boa oportunidade para apresentar para ela", diz Rosely.
Para os especialistas, ficar tenso na hora de tirar a camisinha deve ser o menor dos problemas, já que os meninos, nesse momento, não podem se autocontaminar. E se fizerem da maneira correta também não vão engravidar ninguém (leia o quadro ao lado).
Camisinha de show, apenas com propaganda e sem informação vai para o lixo? Ponto para os garotos. "Não dá para confiar mesmo. Muito legal a posição deles, um adulto não tem essa visão", diz o ginecologista Malcolm Montgomery.
Por lei, camisinha tem de trazer o símbolo do Inmetro, a data de validade e as instruções de uso. Se for importada, deve trazer tudo isso traduzido. Do contrário, ela não precisa ir para o lixo, não. Rosely recomenda que esses preservativos sejam usados para treinar sozinho em casa.
Em uma questão, garotos e garotas concordam. Conversar sobre o assunto é uma medida prática para melhorar a relação com a camisinha. Proposta: que tal conversar com a direção da sua escola e pedir para que grupos de discussão e workshops sobre sexo sejam criados? "Aulas de educação sexual, em que só o professor fala, não resolvem", diz Rosely.


Colaborou Silvia Ruiz



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