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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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O bicho-papão vai pegar quem baixa música

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Sabe quantos americanos já baixaram música -de graça e à margem da lei- pela internet? Nada menos do que 50 milhões, ou seja, 17,5% da população do país.
O número, por si só avassalador, é mais impressionante ainda por se tratar dos EUA, lugar de colonização puritana e apego ferrenho à lei escrita.
Ao contrário do que acontece no Brasil, nos EUA não pega bem ser malandro, dar um jeitinho, se dar bem ou cometer um pequeno delito que passe impune. Ainda assim, apesar dessa atitude reta diante da vida, baixar música é prática mais do que comum entre os americanos. Por que será?
Acontece que, para terrível azar da indústria, obter canções na rede mundial é tão fácil que não parece crime, não dá a sensação de estar fazendo algo errado.
E é por isso que a Riaa, associação das grandes gravadoras, atua de modo tão brutal nos tribunais americanos, ameaçando com cadeia e multas milionárias qualquer um que seja pego no "dowloading" musical na web. Qualquer um mesmo, pessoas comuns como eu e você.
De um modo imediato, o motivo da encrenca é simples: as pessoas pegam a música de graça e não precisam comprar CDs. As vendas despencam (de 2000 para 2002, houve queda de 16%), e as gravadoras se apavoram. A longo prazo, porém, a questão é ainda mais complicada. Porque está sob risco o próprio conceito de álbum -ou LP, como se dizia antigamente-, fundamento sobre o qual cresceu a indústria da música que conhecemos hoje.
Ao baixar uma canção na rede, o consumidor busca apenas aquela faixa de que gosta, e não um álbum inteiro, de 14 ou 15 músicas em que só três ou quatro prestam. Acendem-se aqui várias luzes vermelhas nas cabeças dos executivos do mundo dos discos. É que o formato de álbum é muito lucrativo.
Segundo a revista "New Yorker" de 7/7/ 2003, quando o CD entrou no mercado (nos anos 80), um LP de vinil custava, nos EUA, US$ 8,98. O CD chegou ao preço de US$ 15,98, apesar de ter os mesmos custos de produção que a bolacha preta. Eram as gravadoras enchendo os bolsos à custa do gostinho da novidade. Com o tempo, os CDs ficaram ainda mais baratos de fazer, mas o preço nas lojas não caiu quase nada. Entendeu por que o fim do álbum assusta tanto a Riaa?
Nos EUA, o arranca-rabo nos tribunais fica mais interessante a cada dia. Jogando pesado, a Riaa começou a exigir das companhias telefônicas, fornecedoras de conexões à internet, a divulgação dos nomes dos clientes que baixam músicas (ou seja, quase todo mundo).
Agora, o conglomerado SBC, que controla, por exemplo, a telefonia na Califórnia (sede planetária do "downloading" musical), contra-ataca processando a Riaa por assalto à privacidade. A guerra continua...


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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