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SP 450
Outros olhares
Internos da Febem e jovens de periferia mostram a sua SP
MARCOS DÁVILA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
No topo do edifício do Banespa,
um dos arranha-céus mais altos
do centro da cidade de São Paulo,
oito jovens disparam suas máquinas fotográficas boquiabertos
diante do panorama nunca antes
experimentado.
"Eu vi outro mundo. Nunca tinha visto essa paisagem da cidade
de longe, com os prédios pequenos. Deu uma sensação de liberdade", afirma Julio, 17, que cumpre
regime de semi-internato na unidade da Febem do Belém. Ao lado
de outros 14 adolescentes na mesma condição, Julio vai expor suas
fotos na mostra "Jovens da Febem
Revelam SP", em cartaz, a partir do
dia 25, no Conjunto Cultural da
Caixa (praça da Sé, 111, tel. 0/xx/
11/3107-0498).
A exposição, que vai contar com
25 fotos clicadas por semi-internos
da Febem, faz parte de um projeto
desenvolvido desde 99 pelo fotógrafo João Kulcsar. "O objetivo é a
alfabetização visual dos jovens, para que eles possam se expressar por
meio da fotografia e desenvolver
um olhar crítico das imagens", explica Kulcsar.
O projeto visa a capacitar monitores da Febem para que eles repassem o conhecimento aos internos. Os adolescentes que se destacarem nas aulas básicas têm a
chance de fazer outro curso, voltado especificamente para o trabalho
em laboratórios e estúdios fotográficos.
O ex-interno Fábio Zara, 21, é o
melhor exemplo da reintegração
social proporcionada pelos cursos.
Ele se apaixonou pela fotografia
durante as aulas de Kulcsar e, ao
ganhar a liberdade, no ano passado, foi convidado pelo fotógrafo
para ser seu assistente e começou a
trabalhar profissionalmente.
"O mundo de quem está no crime é muito pequeno. Todos os
seus amigos roubam e usam drogas. Antes, eu vivia somente nos
arredores do meu bairro, em São
Mateus. E tem tanta coisa no mundo... Eu me arrependo de não ter
descoberto isso antes", afirma Zara, que acredita que, além das oficinas, o que falta aos jovens da Febem é oportunidade de emprego.
"Sempre que tinha festa em casa,
eu pedia para tirar as fotos", afirma
Edson, 17, outro jovem que vai participar da exposição e que não mede esforços para achar um bom ângulo ao fotografar o centro antigo
de São Paulo.
"O pessoal acha graça porque eu
subo nos lugares e chego até a deitar no chão, quando estou fotografando", diz.
Há dois meses na Febem, Edson
espera uma decisão do juiz para
voltar à liberdade. "O curso está
me ajudando porque sou avaliado
o tempo todo. É um ponto positivo
no meu relatório que vai para o
juiz", diz o jovem, que agora sonha
em ter um laboratório de fotos.
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