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Essa molecada precisa se coçar
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
Bem informado sobre o comércio de CDs em São Paulo, Lúcio
Ribeiro, da Ilustrada, me conta
que o álbum do Looper, "Up a
Tree", é o mais procurado nas importadoras e já virou cult.
Explica-se: Looper é o projeto
paralelo de Stuart David, baixista
do Belle and Sebastian, banda
que, apesar de independente, tem
uma legião de admiradores mundo afora. São corações solitários,
desajustados em geral, que vêem
no Belle and Sebastian o mesmo
que os Smiths representaram nos
anos 80 (tipo "só eles me entendem").
Looper foi recomendado nesta
coluna e depois, também, pela
Ilustrada.
Por um lado, é ótimo saber que
num fim de mundo como este haja público para sons tão incomuns, que são "alternativos"
mesmo em seus países de origem.
Só que essa busca também incomoda: por que esses caras não se
coçam, por que não compram CD
pela Internet, por que ficam na
mão de importadoras que sempre
cobraram preços absurdos e agora, com a desvalorização do real,
estão ganhando ainda mais?
Looper saiu pela gravadora
americana SubPop. É só ir à
www.subpop.com. Está lá: o CD
custa US$ 12, mais uns US$ 5 de
correio. E ainda vem com pôster
grátis! No total, sai por R$ 29 -
caro, mas não tanto quanto as lojas cobram. Sem falar que, se pedir um CD só, passa direto na alfândega e chega em uma semana.
Mas esta coluna não é sobre o
Looper. É sobre gente que não se
mexe.
De vez em quando me chamam
para falar em faculdades. Sempre
alguém pergunta: você poderia
indicar alguma revista boa em
português? A resposta é "não, não
posso, se você quer ler revistas legais, aprenda inglês, e, se não sabe
inglês, vai acabar aprendendo de
tanto ler as revistas".
Revista independente no Brasil
não presta porque o mercado é
mínimo e, para você botar algo na
banca com papel bacana e textos
inteligentes (escritos por gente
que cobra caro), só há dois caminhos:
1) descolar um milionário que
esteja a fim de lavar dinheiro e
banque seu projeto;
2) puxar o saco e lamber as botas de empresários que anunciam
na sua revista em troca de matérias favoráveis.
Na minha época, jovem leitor,
não havia Internet, quase não se
encontravam publicações importadas nas bancas. Durante um
bom tempo, não existia nem videocassete! Escutar inglês, só se
pintasse algum gringo de intercâmbio na casa de amigos; senão,
só no cinema mesmo, tentando
não ler as legendas.
Quem é jovem hoje e não sabe
inglês devia afundar a cabeça na
terra de vergonha. Vai passar o
resto da vida dependendo de uma
língua morta -inculta e bela,
sim, mas morta- chamada português.
Sei, revistas importadas custam
muito caro, nem todo mundo tem
acesso a computador. Mas eu recebo cartas de leitores que moram
na periferia da periferia de São
Paulo e são mais bem-informados
e entendem 200 vezes mais de
música do que eu.
Quer dizer: quem tem vontade
corre atrás, lê na biblioteca, pega
revista do amigo do amigo,
aprende inglês de tanto assistir à
Cartoon Network.
Em vez de ficar procurando revistas legais no Brasil, enfie de vez
uma coisa na cabeça: este é um
país periférico, isolado, nossa língua só é falada em "bananões",
tudo o que é feito aqui está condenado à desimportância ou à mera
fama paroquial.
Levante as antenas, ligue o radar. O Brasil é muito bom para a
gente se divertir, mas quem faz revistas, filmes e CDs bacanas são os
gringos. Pode ser duro, mas é
simples assim.
cd player
Programa "De Noite
na Cama"
Nas madrugadas da
TV a cabo, Monique
Evans guia um exército de insones por uma espécie
de era pós-moral, em que orgias e dupla penetração anal
formam um amálgama além
dos juízos de valor.
"The Space Between
Us", Craig Armstrong
Belo CD do selo Melankolic, do pessoal
do Massive Attack. O
problema é que, às vezes, é "belo" demais, resvalando num
tom "sinfônico": lamentáveis
memórias do rock progressivo.
Engenheiros gravam
Supertramp
Um amigo informa
que os Engenheiros
gravaram uma versão em português de "Logical
Song", do Supertramp. Nada é
tão ruim quanto Engenheiros,
e pouca coisa é tão medonha
quanto Supertramp.
Álvaro Pereira Júnior, 36, é chefe de Redação
do "Fantástico" em São Paulo
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