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Festival sempre foi comércio puro
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
É um mito repetido há 30 anos:
Woodstock teria sido o último
ato inocente do pop. O suspiro
pré-industrial de uma forma de
expressão jovem que seria depois
corrompida pelo monstro capitalista.
Segundo a lenda, meio milhão
de maconheiros se reuniram em
1969, numa fazenda do interior
do Estado de Nova York, para
praticar o sexo livre e ver shows
dos grandes nomes do rock. Ninguém pensava em dinheiro ou
sucesso, só em paz e amor, bicho.
Tudo mentira, claro.
Woodstock foi organizado por
três empresários que tinham um
único objetivo: ganhar dinheiro.
Eles sabiam que aquele exército
de chapados, com LSD borbulhando nas veias juvenis, não era
só de "filhos das flores", como
eles próprios se intitulavam. Os
malucos eram também filhos de
pais ricos e estavam cheios de dólares nos bolsos das calças desbotadas.
Os defensores da pureza hippie
alegam que não houve cobrança
de entrada, que o espírito mercantilista ainda não havia tomado conta da música jovem.
Não é bem o que a história registra. Na verdade, os ingressos
custavam de US$ 5 a US$ 18, valor bem alto para a época. Mas
nem os promotores imaginavam
que existissem tantos hippies no
mundo. Quando a horda apareceu, todo mundo doidão, não
houve jeito. As cercas vieram
abaixo e o festival virou "de graça".
Outra lorota é que só depois de
Woodstock a indústria teria
acordado para o poder comercial
e mobilizador do rock. Segundo
essa teoria, 1969 teria sido, sem
querer, o começo do fim da pureza juvenil.
Difícil acreditar. E o maior
exemplo está na principal ausência de Woodstock: o já na época
mítico Bob Dylan. Em vez de tocar no festival americano, ele escolheu se apresentar na ilha de
Wight, Inglaterra, algumas semanas depois. Motivo: a apresentação britânica renderia um
bom cachê, e em Woodstock ele
teria de tocar de graça.
Os anos 60 foram um ponto de
inflexão para a chamada cultura
jovem. O culto aos ídolos adolescentes, meros cantores pop, foi
substituído pela veneração a músicos de rock tratados como gênios, artistas de verdade que sofriam por seus fãs.
Eram esses ídolos que tocavam
em Woodstock, sob a ilusão de
que ali nascia uma cultura genuinamente anticapitalista. Como
se, para saber sobre esses mesmos ídolos, as pessoas não tivessem de comprar revistas (e gastar
dinheiro com isso). Como se não
fosse preciso comprar discos (e
torrar mais grana ainda).
O que os cabeludos não sabiam
era que, exposta em cima do palco em Woodstock, estava à venda uma mercadoria.
Uma mercadoria chamada sinceridade.
Corrijo aqui dois erros da coluna
da semana passada. O segundo
álbum do Radiohead chama-se
"The Bends", não "The Bands",
como saiu. Quando li o jornal,
pensei em ligar para a equipe de
ninfas que edita o Folhateen,
perguntando quem tinha sido o
"gênio" que mexeu em meu texto. Mas, antes, fui conferir o original... e o erro tinha sido meu
mesmo.
Outra mancada: no ""CD Player", ao lado de um texto desancando Eminem, embusteiro que
é a nova sensação do rap branco
americano, saiu o selo de "Pause". Nada disso. Eminem merece
mesmo é "Eject".
Álvaro Pereira Júnior, 36, é chefe de Redação do "Fantástico" em São Paulo. E-mail:
cby2k@uol.com.br
CD Player
"Viva el Amor!",
Pretenders
Chrissie Hynde está de volta com
seus Pretenders,
para provar que é possível ser
romântico sem sacarina. A faixa "Baby's Breath" tem o trecho: "Por que você me mandou essas flores?/ Guarde-as
para a morte de alguém".
"Carboot Soul",
Nightmares on Wax
A capa parece de
uma banda de
psychobilly e o nome também. Mas trata-se de
um grupo inglês de trip hop,
menos climático e mais chegado à soul music. Anote:
www.warprecords.com.
A volta do Styx
Ressurge uma das
bandas mais melosas e cheias de arranjos complicados de todos
os tempos: os americanos do
Styx. Com um som tão chato e
inofensivo, até "Eject" é colher
demais para eles.
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