São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

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MÚSICA

Em novo álbum lançado no Brasil, a colombiana Shakira mostra a força de seu pop globalizado cantando em inglês

Shakira sem fronteiras

JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES"

Na capa de seu novo CD, "Oral Fixation, Vol. 2", recém-lançado no Brasil, a colombiana Shakira, 28, aparece como Eva, vestindo folhas estratégicas. Ao lado, sobre uma árvore, um bebê quer alcançar a maçã que ela segura. A capa chama a atenção, assim como a capa do álbum irmão cantado em espanhol lançado em junho, "Fijación Oral, Vol. 1", e que a mostrava com o mesmo bebê no colo.
"Quero atribuir a Eva uma razão a mais para morder o fruto proibido: sua fixação oral", diz Shakira, que deve vir ao Brasil no ano que vem. "Sempre me considerei uma pessoa muito oral. Desde um ponto de vista psicanalítico, começamos a descobrir o mundo através da boca. A capa do primeiro CD é mais freudiana, enquanto a do segundo lembra mais Jung, porque Eva é um arquétipo universal. Optei por usar uma iconografia renascentista -mãe, filho e pecado original."
Psicanálise, revisionismo bíblico, pintura renascentista. Sem falar em multiculturalismo, movimentos de dança tórridos, um ouvido para ritmos e referências de toda parte. Preencher os requisitos básicos do pop atual é algo que nem sequer começa a satisfazer as ambições de Shakira. Ela é a "bombshell" latina do pop do século 21, o rosto docemente alto-astral da globalização. "Sou conseqüência do grande pique musical e das transformações profundas pelas quais o mundo está passando", diz.
O romancista colombiano premiado com o Nobel Gabriel García Márquez escreveu sobre Shakira: "Ela criou sua forma própria de sensualidade inocente".
Se suas canções não tivessem virado sucessos pop internacionais, Shakira teria sido saudada como inovadora no rock alternativo latino. Sua música possui um ecletismo inteligente, quase perturbado. "Animal City", começa com um floreado vocal de flamenco cantado em árabe, passa para o pop com sintetizador, inclui algumas pinceladas de guitarra de surfe e é arrematada com metais de mariachi. Mesmo em suas canções rock ou pop mais convencionais, sua voz não conhece freios. Um contralto choroso, um ataque rock, uma cadência de menina, uma insinuação sussurrada.
Nenhum plano empresarial para conseguir um sucesso transcultural poderia ter imaginado uma figura como Shakira. Sua mãe é colombiana, seu pai, libanês. Em árabe, "Shakira" significa "mulher cheia de graça". Ela fala espanhol, português e inglês e quer aprender outras línguas. Se diz nômade, possui casas nas Bahamas e em Miami, mas visita regularmente sua cidade natal, Barranquilla, na costa caribenha da Colômbia. Seu lado do Oriente Médio transparece nos arabescos vocais e nos passos de dança do ventre, mas ela também mergulha profundamente no rock, pop e disco. O primeiro disco que teve na vida, em fita cassete, foi "Bad Girls", de Donna Summer.
Shakira manda em sua própria música há dez anos, com "Pies Descalzos" (1996). No final dos anos 1990, já era estrela em toda a América Latina. Então se propôs a aprender inglês para escrever letras -e conquistou o mundo com "Laundry Service", que vendeu mais de 13 milhões de cópias.
Ela conta que levou um mês aperfeiçoando "La Tortura", de "Fijación Oral, Vol. 1", que mistura cumbia colombiana, reggaeton porto-riquenho, dancehall jamaicano, guitarras de rock e toques eletrônicos.
Enquanto canta, ela deixa que a música a leve. Os ombros começam a virar, os pés embarcam no ritmo e os quadris balançam. "Meus quadris me dizem onde e quando eu devo me mexer", diz. "E meus quadris não mentem. Eles dizem a verdade."


Tradução de Clara Allain


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