|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tênis-maníacos
MOVIDOS PELA PAIXÃO POR ESTILO E POR UMA BOA DOSE DE CONSUMISMO, TEENS ADEREM À CULTURA "SNEAKERS"
MAYRA MALDJIAN
DE SÃO PAULO
SAMIA MAZZUCCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Desde moleque, eu já tinha uma chuteira diferente.
Era amarela", lembra Jaime
Ha, 22. A paixão pelas cores e
modelos de tênis era tanta
que, aos 16 anos, ele começou a colecioná-los. E não parou mais. Hoje tem 50 pares.
O costume de colecionar
tênis surgiu nos anos 1980,
nos EUA, influenciado pelo
basquete e pelo hip hop.
No Brasil, a onda pegou
em 2005, quando o pernambucano Ricardo Nunes, 32,
dono de mais de 500 pares,
lançou o Sneakersbr.com.br.
Hoje, o site tem 350 mil
acessos mensais e, no ano
passado, Ricardo foi convidado pela Nike para criar o
modelo Lanceiro, inspirado
no movimento mangue beat.
Luiz Henrique Gigolotti,
19, sempre achou legal compor um estilo a partir do tênis. "Acho interessante a história e o conceito por trás de
cada criação", diz ele, que
tem 23 pares no armário.
A cultura "sneakers" não é
só para meninos. "Procuro
uma feminilidade combinada com o conforto", diz Juliana Vidor, 20, que, quando
gosta de um tênis masculino,
não hesita em comprá-lo.
Ela tem 30 pares e diz se interessar pelo processo de
criação dos modelos.
"CUSTOMIZADOS"
Foi a busca pela identidade que deu o pontapé inicial
para a atual mania da customização de tênis.
A Nike, por exemplo, tem
uma loja em São Paulo em
que o cliente inventa o que
quer estampar nos pés. Se for
uma caricatura dele mesmo,
fica pronto na hora.
Já a Converse tem uma linha assinada pelo ilustrador
Filipe Jardim, 32, que vem
com a estampa "de fábrica".
A febre de um colecionador é justamente essa: ter peças exclusivas.
Para conseguir, vale tudo:
comprar usado, encomendar
para os amigos que viajam
ou criar a sua própria estampa.
Para os menos criativos, o
limite é a grana. Que o diga
Jaime, que sonha com um tênis que custa US$ 900.
CONSUMISMO
O apreço pela
história de cada
modelo é um
dos motores da
cultura "sneakers", mas não
dá para ignorar que ela está atrelada ao bolso
dos colecionadores.
"Todo o mundo tem uma
lista de desejos, mas, mesmo
quando o par custa só US$
100, não dá para comprar vários de uma vez", diz Jaime.
Ele compra, em média, um
tênis por mês. Chegou a gastar R$ 700 em um par.
"Comprava mais quando
eu trabalhava. Quando sobra
uma grana, torro em tênis."
Durante uma viagem a Nova York, há três meses, Juliana teve um surto e comprou
seis pares de uma vez. Gastou R$ 680. "Pela quantidade, não achei que foi caro".
Para bancar esse fetiche, a
mesada de R$ 300 nem sempre é suficiente.
"Aperto aqui e ali para sobrar uma grana. Também
peço tênis ou dinheiro de
presente", diz Juliana,
que fez um cartão de crédito para poder comprar
pela internet.
Luiz paga tudo com o salário de estagiário. "Meus pais
acham que eu não preciso de
tanto tênis, mas acabaram se
acostumando."
Na semana passada, por
R$ 160, sua última aquisição
chegou da Califórnia (EUA).
Um par da marca Vans. "Foi
criado por um artista holandês", gaba-se.
Texto Anterior: Rock erudito do Pará Próximo Texto: Escuta aqui - Alvaro Pereira Júnior: O quebra-cabeças de Los Angeles Índice
|