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ELES TECEM O FUTURO
"A gente não é nada, mas pode mudar o mundo"
da Reportagem Local
Célio Pereira da Silva, 19, não tem
o vírus HIV, mas a Aids mudou
sua vida. Há pouco mais de um
ano, o Jack, como é conhecido na
favela Rocinha (zona sul do Rio de
Janeiro), em que mora, entrou de
cabeça em um projeto de prevenção de Aids, de outras DSTs
(Doenças Sexualmente Transmissíveis) e de gravidez. Hoje é um
conselheiro sexual da galera local.
Tudo começou quando ele comandava um programa de rock na
rádio comunitária da favela. ""O diretor do Grupo Resistência Adquirida para Prevenção de Aids com
Arte na Rocinha me pediu que colocasse um anúncio deles no programa, e eu acabei me interessando em participar", diz ele.
Esse diretor, o sociólogo Murilo
Mota, 34, criou o grupo há dois
anos com o objetivo de fazer um
trabalho de prevenção por meio da
arte e do teatro. ""A gente sabe que
não adianta chamar o jovem para
debater a Aids. O que funciona é
convocá-lo por outros meios, como o teatro e, a partir daí, colocar o
assunto em pauta", diz Murilo.
Foi o que aconteceu com Jack.
Até seu encontro com Murilo, ele
diz que era um garoto do morro
como outro qualquer. Trabalhava
como balconista em uma padaria e
sonhava em ""melhorar de vida e se
divertir. Pensava em camisinha,
mas usar, nem pensar".
"Você sabe como é aqui... Quem
tem moral é traficante. Você quer
ser como eles. Graças a Deus conheci um grupo que ajudou a moldar o meu caráter", diz Jack.
Com Murilo e a turma do Resistência, ele aprendeu tudo o que podia sobre sexualidade e prevenção
de doenças. A partir disso, tornou-se um ""jovem multiplicador de informações". Ou seja, divide com os
amigos mais próximos as informações que recebeu.
Em pouco tempo, essa rede de
informação foi crescendo. Jack virou o ""consultor para assuntos sexuais" da galera jovem da Rocinha,
de seu colégio e até mesmo de sua
família. ""Quase matei minha tia de
susto quando mostrei uma camisinha feminina para ela."
Ele conta que no começo enfrentou certo preconceito em casa, mas
hoje é motivo de orgulho. ""Meus
pais diziam: "A gente cria um filho
com tanto cuidado pra depois ele
sair por aí falando besteira"."
Hoje Jack estuda magistério e
trabalha como monitor do grupo.
A turma apresenta peças de teatro
que discutem sexualidade e violência, temas cotidianos para quem
vive em uma favela do Rio. Além
disso, distribui camisinha para os
jovens da Rocinha.
Para ele, descobrir o trabalho social foi a fonte de inspiração para
mudar a sua vida e ajudar a dos outros. ""Isso me ajudou tanto que
hoje estudo para ser professor e sonho em um dia ser sociólogo. Eu
me sinto bem em saber que, mesmo que a minha contribuição seja
pequena, estou fazendo a minha
parte. A gente não é nada, mas pode mudar o mundo."
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