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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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TRABALHO

Programa do governo federal vai dar prioridade aos jovens carentes
Emprego primeiro para quem precisa

RICARDO LISBÔA
DA REPORTAGEM LOCAL

A virgindade, pelo jeito, vai continuar como um problema na vida de milhões de garotos e garotas. Mas não aquela de sempre. Depois dos BVs, os bocas virgens, a nova sigla popular é VT: virgem de trabalho.
Afinal, ser adolescente e arrumar emprego, emprego mesmo, com a documentação bonitinha, está mais difícil do que nunca por causa da ladainha de sempre: para conseguir trabalho é preciso ter experiência, mas como ter experiência se ninguém oferece oportunidade? Apelar para a lojinha da tia é uma saída, mas haja tia. Segundo o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), 44% dos desempregados brasileiros têm de 16 a 24 anos. Só nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, são 2 milhões de jovens em busca de um salário no fim do mês.
Para tentar dar vazão aos hormônios empregatícios dos jovens e não deixar que isso vire mais um tabu adolescente, o governo federal lançou, no dia 30/6, o Programa Primeiro Emprego, cuja meta é empregar pessoas de 14 a 24 anos, a começar pelos menos escolarizados e de menor renda familiar.
O programa, pelo menos no início, é dirigido para quem vive com meio salário mínimo -ou menos- em casa. Imagine um rapaz que viva com a mãe, que ganha R$ 240. Esse personagem, nem tão fictício, deve ir a algum Sine (Sistema Nacional de Emprego), Delegacia Regional do Trabalho, Sesi, Senai, Senac, Sesc, Senar ou Sebrae e se inscrever.
"[Para resolvermos o problema do desemprego], a primeira questão é a solidariedade com aqueles que têm escolaridade e renda baixa. Esses é que têm maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho", defende Remígio Todeschini, secretário de Políticas Públicas de Emprego do MTE, que participou de uma teleconferência sobre o Primeiro Emprego, realizada em 11/7 e transmitida para todas as unidades do Senac no país.
Todeschini ainda explicou que aqueles que entrarem na primeira fase do programa vão ter de se comprometer em concluir os estudos e em se especializar.
A ação quer fazer andar a fila de mais de 260 mil currículos presos no Sine. Nela, encontra-se gente que procura trabalho há mais de seis meses.
Segundo o assessor especial da Presidência da República, Oded Grajew, que também participou da conferência, os jovens que possuem maior escolaridade e maior renda são mais facilmente absorvidos pelo mercado.

Tudo lindo, mas...
Projetos como esse, em tese, são muito bonitos. Mas, para entrar em prática de modo realmente viável, o Programa Primeiro Emprego vai precisar de uma grande mobilização popular e de uma economia brasileira andando um pouco mais rápido.
Porém, se leis até mais antigas fossem cumpridas, já adiantaria bastante. Uma delas é a Lei da Aprendizagem, que existe desde 2000. O próprio Grajew reconhece que quase ninguém a respeita. Ela determina que todas as empresas devem contratar um número de aprendizes (entre 14 e 18 anos de idade) equivalente a até 15% dos funcionários para trabalhar em cargos técnicos.
Quando o Primeiro Emprego virar lei, provavelmente em meados de setembro, vai haver também a possibilidade de pedir empréstimos a bancos oficiais federais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, para que jovens possam abrir negócios próprios. Para descobrir mais detalhes sobre o programa, existe uma cartilha no endereço www.mte.gov.br/Programas/ PrimeiroEmprego/Conteudo/ Programa.asp.

Despreocupada
A convite do Folhateen, a estudante Gabriele Pereira, 16, acompanhou a teleconferência sobre o Programa Primeiro Emprego. Ela conheceu o problema do desemprego em casa, quando seu irmão e sua irmã mais velhos ficaram sem trabalho. "Mas não teve muito estresse, depois de uns dois meses eles arranjaram um emprego novo", conta.
Apesar de não ter visto a palestra inteira, Gabriele disse que a aproveitou bem, mas que não se sentiu inserida. "Acho que não vou ter problema em arrumar emprego. Sou boa aluna, mesmo não tendo me dedicado muito neste ano", avalia ela.
Ela pensa em se tornar veterinária e seu maior medo, na contramão dos 7 milhões de jovens brasileiros de até 24 anos que têm o fantasma do desemprego assombrando no quarto, é não se adaptar ao emprego escolhido. Sorte dela.

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