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MÚSICA
Papa Roach usa agressividade para falar de sofrimento em "Lovehatetragedy"
O lado escuro da vida
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando desembarcaram no Brasil
para tocar no Rock in Rio 3, os
integrantes do Papa Roach eram
ilustres desconhecidos que, de acordo com os rumores, só estavam ali
por uma "exigência" de Axl Rose.
Tudo muito estranho tanto para o
público quanto para a banda.
"Olhavam para nós como se perguntassem: quem diabos são vocês?
E a resposta era: ah, são os caras que
vieram porque o vocalista do
Guns'n'Roses pediu", relembra Dave Bruckner, 26, baterista do grupo.
Dois dias depois de sua chegada,
no dia seguinte ao show, a banda já
colecionava alguns novíssimos fãs,
que faziam plantão na porta do hotel onde estava. "Isso foi muito engraçado", diverte-se Bruckner.
O caso ilustra bem a trajetória explosiva do grupo. Formado em 93,
na Califórnia, o Papa Roach estourou em 2000 com o CD "Infect" -
que ganhou três discos de platina
nos EUA. Com isso, foi alavancado
à categoria de fenômeno do chamado nu-metal, gênero criado para
identificar bandas de metal moderno, que misturam guitarras nervosas a vocais que lembram os de rap.
Com seu novo disco, "Lovehatetragedy", lançado agora no Brasil, o
Papa Roach passa uma rasteira nos
defensores do tal nu-metal com um
álbum que deixa apenas um rastro
de influência hip hop. "Buscamos
utilizar a sensibilidade hip hop em
nossas músicas em vez dos sons de
rap em si", explica o baterista.
O Papa Roach, que demonstrou
nas letras simples de "Infect" um
fascínio pelo lado escuro da vida, intensificou seu peso e sua agressividade. "Se, no primeiro disco, tentamos criar algo, agora fazemos um
trabalho arqueológico, indo fundo a
cada canção", diz Bruckner.
E é sob essa mesma ótica raivosa
que o vocalista Jacoby Shaddix, ex-Coby Dick, compõe músicas como
o hit "She Loves Me Not", para sua
mulher, e "Walking Thru Barbed
Wire", para seu cachorro de estimação que morreu neste ano.
Leia a seguir trechos da entrevista
concedida por Dave Bruckner ao
Folhateen.
(FERNANDA MENA)
Folha - Como foi tocar no Brasil?
Dave Bruckner - Foi provavelmente
um dos shows mais incríveis e aterrorizantes que já fizemos. Nunca havíamos tocado para tanta gente.
Acho que nunca tínhamos visto tanta gente junta no mesmo lugar. Uma
loucura! Foi um show do qual certamente não esqueceremos.
Folha - O Papa Roach é tido como
uma banda de nu-metal. O que você
acha disso?
Bruckner - Temos alguns elementos do que se chama de nu-metal. Ao
mesmo tempo, temos nossa própria
viagem e seguimos esse instinto. O
público vai sacar isso aos poucos.
Folha - De que maneira "Lovehatetragedy" difere de "Infect"?
Bruckner - São diferentes, mas não
de maneira excludente. Sempre intercalamos faixas de um e de outro
ao vivo e elas ficam muito bem juntas. Quando lançamos nosso primeiro disco, diziam que soávamos
muito diferentes na gravação e nos
shows. E os fãs gostavam mais do
nosso som ao vivo. Portanto tentamos trazer essa energia para as gravações, tornando as músicas mais
cruas e sujas em vez de limpinhas e
bem produzidas.
Folha - Onde foi parar a influência
do hip hop?
Bruckner -Somos a primeira geração de americanos que cresceu ouvindo rock e rap. A influência do rap
ainda está na nossa música com certeza, mas não estamos mais sampleando ou transpondo sons do hip
hop para nossas canções. Tomamos
para nós o que está por trás do hip
hop, sua sensibilidade, que tem a ver
com o ritmo, com a batida.
Folha - Na sua opinião, por que o Papa Roach atinge em cheio o público
adolescente?
Bruckner - Porque eles se identificam com a vibração do nosso som e
com nossas letras, que falam muito
de sofrimento. Quando escrevemos
as músicas de "Infect", éramos adolescentes. E ainda estamos um pouco nessa fase. Acho que, quanto
mais velhos ficarmos, mais sabedoria poderemos colocar em nossas letras. Assim eu espero. (risos)
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