São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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MÚSICA

Papa Roach usa agressividade para falar de sofrimento em "Lovehatetragedy"

O lado escuro da vida

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando desembarcaram no Brasil para tocar no Rock in Rio 3, os integrantes do Papa Roach eram ilustres desconhecidos que, de acordo com os rumores, só estavam ali por uma "exigência" de Axl Rose. Tudo muito estranho tanto para o público quanto para a banda.
"Olhavam para nós como se perguntassem: quem diabos são vocês? E a resposta era: ah, são os caras que vieram porque o vocalista do Guns'n'Roses pediu", relembra Dave Bruckner, 26, baterista do grupo.
Dois dias depois de sua chegada, no dia seguinte ao show, a banda já colecionava alguns novíssimos fãs, que faziam plantão na porta do hotel onde estava. "Isso foi muito engraçado", diverte-se Bruckner.
O caso ilustra bem a trajetória explosiva do grupo. Formado em 93, na Califórnia, o Papa Roach estourou em 2000 com o CD "Infect" - que ganhou três discos de platina nos EUA. Com isso, foi alavancado à categoria de fenômeno do chamado nu-metal, gênero criado para identificar bandas de metal moderno, que misturam guitarras nervosas a vocais que lembram os de rap.
Com seu novo disco, "Lovehatetragedy", lançado agora no Brasil, o Papa Roach passa uma rasteira nos defensores do tal nu-metal com um álbum que deixa apenas um rastro de influência hip hop. "Buscamos utilizar a sensibilidade hip hop em nossas músicas em vez dos sons de rap em si", explica o baterista.
O Papa Roach, que demonstrou nas letras simples de "Infect" um fascínio pelo lado escuro da vida, intensificou seu peso e sua agressividade. "Se, no primeiro disco, tentamos criar algo, agora fazemos um trabalho arqueológico, indo fundo a cada canção", diz Bruckner.
E é sob essa mesma ótica raivosa que o vocalista Jacoby Shaddix, ex-Coby Dick, compõe músicas como o hit "She Loves Me Not", para sua mulher, e "Walking Thru Barbed Wire", para seu cachorro de estimação que morreu neste ano.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Dave Bruckner ao Folhateen. (FERNANDA MENA)

Folha - Como foi tocar no Brasil?
Dave Bruckner -
Foi provavelmente um dos shows mais incríveis e aterrorizantes que já fizemos. Nunca havíamos tocado para tanta gente. Acho que nunca tínhamos visto tanta gente junta no mesmo lugar. Uma loucura! Foi um show do qual certamente não esqueceremos.

Folha - O Papa Roach é tido como uma banda de nu-metal. O que você acha disso?
Bruckner -
Temos alguns elementos do que se chama de nu-metal. Ao mesmo tempo, temos nossa própria viagem e seguimos esse instinto. O público vai sacar isso aos poucos.

Folha - De que maneira "Lovehatetragedy" difere de "Infect"?
Bruckner -
São diferentes, mas não de maneira excludente. Sempre intercalamos faixas de um e de outro ao vivo e elas ficam muito bem juntas. Quando lançamos nosso primeiro disco, diziam que soávamos muito diferentes na gravação e nos shows. E os fãs gostavam mais do nosso som ao vivo. Portanto tentamos trazer essa energia para as gravações, tornando as músicas mais cruas e sujas em vez de limpinhas e bem produzidas.

Folha - Onde foi parar a influência do hip hop?
Bruckner -
Somos a primeira geração de americanos que cresceu ouvindo rock e rap. A influência do rap ainda está na nossa música com certeza, mas não estamos mais sampleando ou transpondo sons do hip hop para nossas canções. Tomamos para nós o que está por trás do hip hop, sua sensibilidade, que tem a ver com o ritmo, com a batida.

Folha - Na sua opinião, por que o Papa Roach atinge em cheio o público adolescente?
Bruckner -
Porque eles se identificam com a vibração do nosso som e com nossas letras, que falam muito de sofrimento. Quando escrevemos as músicas de "Infect", éramos adolescentes. E ainda estamos um pouco nessa fase. Acho que, quanto mais velhos ficarmos, mais sabedoria poderemos colocar em nossas letras. Assim eu espero. (risos)



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