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MÚSICA
Pioneiros do grindcore retornam em pacote com dez CDs
Napalm vivo
RICARDO TIBIU
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Caos, barulho ensurdecedor, destruição, gritaria e desespero: o
Brasil foi atingido por bombas incendiárias. Nem precisa correr, que
não é guerra, e sim os dez discos que
os britânicos do Napalm Death gravaram pela Earache e a Sum lançou
por aqui. Quase a obra completa
dos pioneiros do grindcore.
Eles inauguraram o estilo em 87
com "Scum", ao mesclar punk/
hardcore cru com death metal,
aliando vocal urrado com bases extremamente velozes e curtas. É o caso de "You Suffer", que tem 0,7 segundo.
No vinil, o lado A tinha 12 sons
gravados em 86, com Nik Bullen
(baixista e vocalista), Justin Broadrick (guitarrista, que, depois, fundou o Godflesh) e Mick Harris (baterista). O lado B trazia 16 sons gravados em 87. Mick manteve-se, e
chegaram Lee Dorian (vocalista),
Bill Steer (guitarrista) e Jim Whiteley (baixista). O conteúdo das letras
era formado por críticas sociais e repúdio ao capitalismo (explícito na
capa).
Em 89, com a entrada de Shane
Embury (baixista), adicionando
mais rancor, saía "From Enslavement to Obliteration", que, com 27
faixas em 35 minutos, se tornaria o
disco mais cultuado da banda.
Bill deixa o Napalm para se dedicar ao Carcass, e Lee para fundar o
grupo de doom metal Cathedral.
Entra o torcedor fanático do Aston
Villa FC, Mark "Barney" Greenway,
ex-vocalista do Benediction, com
marcantes berros guturais. Com ele,
chegam os guitarristas Mitch Harris
e Jesse Pintado.
Em 90, sai "Harmony Corruption", no qual o Napalm ruma para
o lado do death metal. A prova é a
participação de John Tardy (Obituary) e do polêmico Glen Benton
(Deicide) na faixa "Unfit Earth".
Nesse ano, baixam em São Paulo,
para show memorável com o Sepultura.
Em 91, sai "Death by Manipulation", uma compilação de singles. O
baterista Mick, único membro original, cansa de tocar na velocidade
da luz e monta o dub experimental
Scorn e, depois, o Pain Killer, com o
aclamado saxofonista John Zorn.
Quem assume as baquetas é
Danny Herrera. Assim, revisitam as
raízes grindcore com "Utopia Banished" (92), um primor brutal. Em
"Fear, Emptiness, Despair" (94)
-cuja faixa "Twist the Knife
(Slowly)" entra na trilha sonora de
"Mortal Kombat"-, as músicas ficam mais lentas e longas e há maior
variação de riffs. E "Diatribes" (96) é
a continuação disso, diminuindo e
alternando ainda mais a velocidade.
Em 97, Barney é expulso, e quem
entra em seu lugar é Phil Vane recém-saído do Extreme Noise Terror. Ironicamente, Barney migra
para o grupo de que seu substituto
fazia parte e grava um disco -"Damage 381". Mas, seis meses depois,
ele volta a tempo de participar do
maduro "Inside the Torn Apart", de
um show em São Paulo, com o Krisiun, e de outro em Santos.
Depois da excessiva circulação do
material pirata de uma apresentação no Japão, em 96, eles o oficializam como "Bootlegged in Japan"
(98), álbum que inclui a cover de
"Nazi Punks Fuck Off", do Dead
Kennedys. O ciclo na Earache encerra-se em 98 com "Words from
the Exit Wound".
O Napalm se mantém vivo até hoje e é ótima pedida para quem quer
barulho com conteúdo e, acima de
tudo, identidade.
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