São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2004

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MÚSICA

Pioneiros do grindcore retornam em pacote com dez CDs

Napalm vivo

RICARDO TIBIU
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Caos, barulho ensurdecedor, destruição, gritaria e desespero: o Brasil foi atingido por bombas incendiárias. Nem precisa correr, que não é guerra, e sim os dez discos que os britânicos do Napalm Death gravaram pela Earache e a Sum lançou por aqui. Quase a obra completa dos pioneiros do grindcore.
Eles inauguraram o estilo em 87 com "Scum", ao mesclar punk/ hardcore cru com death metal, aliando vocal urrado com bases extremamente velozes e curtas. É o caso de "You Suffer", que tem 0,7 segundo.
No vinil, o lado A tinha 12 sons gravados em 86, com Nik Bullen (baixista e vocalista), Justin Broadrick (guitarrista, que, depois, fundou o Godflesh) e Mick Harris (baterista). O lado B trazia 16 sons gravados em 87. Mick manteve-se, e chegaram Lee Dorian (vocalista), Bill Steer (guitarrista) e Jim Whiteley (baixista). O conteúdo das letras era formado por críticas sociais e repúdio ao capitalismo (explícito na capa).
Em 89, com a entrada de Shane Embury (baixista), adicionando mais rancor, saía "From Enslavement to Obliteration", que, com 27 faixas em 35 minutos, se tornaria o disco mais cultuado da banda.
Bill deixa o Napalm para se dedicar ao Carcass, e Lee para fundar o grupo de doom metal Cathedral. Entra o torcedor fanático do Aston Villa FC, Mark "Barney" Greenway, ex-vocalista do Benediction, com marcantes berros guturais. Com ele, chegam os guitarristas Mitch Harris e Jesse Pintado.
Em 90, sai "Harmony Corruption", no qual o Napalm ruma para o lado do death metal. A prova é a participação de John Tardy (Obituary) e do polêmico Glen Benton (Deicide) na faixa "Unfit Earth". Nesse ano, baixam em São Paulo, para show memorável com o Sepultura.
Em 91, sai "Death by Manipulation", uma compilação de singles. O baterista Mick, único membro original, cansa de tocar na velocidade da luz e monta o dub experimental Scorn e, depois, o Pain Killer, com o aclamado saxofonista John Zorn.
Quem assume as baquetas é Danny Herrera. Assim, revisitam as raízes grindcore com "Utopia Banished" (92), um primor brutal. Em "Fear, Emptiness, Despair" (94) -cuja faixa "Twist the Knife (Slowly)" entra na trilha sonora de "Mortal Kombat"-, as músicas ficam mais lentas e longas e há maior variação de riffs. E "Diatribes" (96) é a continuação disso, diminuindo e alternando ainda mais a velocidade.
Em 97, Barney é expulso, e quem entra em seu lugar é Phil Vane recém-saído do Extreme Noise Terror. Ironicamente, Barney migra para o grupo de que seu substituto fazia parte e grava um disco -"Damage 381". Mas, seis meses depois, ele volta a tempo de participar do maduro "Inside the Torn Apart", de um show em São Paulo, com o Krisiun, e de outro em Santos.
Depois da excessiva circulação do material pirata de uma apresentação no Japão, em 96, eles o oficializam como "Bootlegged in Japan" (98), álbum que inclui a cover de "Nazi Punks Fuck Off", do Dead Kennedys. O ciclo na Earache encerra-se em 98 com "Words from the Exit Wound".
O Napalm se mantém vivo até hoje e é ótima pedida para quem quer barulho com conteúdo e, acima de tudo, identidade.


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