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Aprendiz de mestre-cuca
Jefferson Coppola/Folha Imagem
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O estudante de gastronomia Lucas Machado, 18, prepara molho |
Na teoria ou na prática, interesse pela arte da gastronomia começa cedo
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
No panelão há quatro horas no fogo,
um "sachet d'épices", composto por
louro, alho, tomilho, cravo, pimenta e
salsa, "mirepoix" (mistura de 50% de cebola, 25% de salsão e 25% de cenoura),
restos de carcaça e de ossos de frango.
Não é uma das bruxarias de Harry Potter, e sim o "fundo", uma espécie de caldo que servirá de base para outras receitas, preparado pelo estudante de gastronomia Lucas Machado, 18.
"Eu me divirto cozinhando", diz ele,
paramentado com avental, chapéu e calça xadrez -a calça preta é só para os
chefs. Hoje no segundo semestre do curso da Universidade Anhembi Morumbi,
Lucas começou a se interessar pelo assunto quando tinha 15 anos, folheando
livros de cozinha e inventando receitas.
"Quando comecei o curso, minha mãe
"desencanou" de cozinhar."
Lucas é um dos muitos jovens que gostam de fazer comida e enxergam na gastronomia não só um hobby mas também
uma profissão. Os primeiros cursos superiores apareceram em 1999, mas a
maioria surgiu de um ano e meio para cá. Nas
aulas, os estudantes aprendem não só a
cozinhar e a conhecer ingredientes exóticos como também a administrar estoque
e gerenciar restaurantes.
"No início, a maioria dos estudantes
era formada por pessoas de 30 a 40 anos.
Hoje, a maior parte dos alunos vêm diretamente do ensino médio", avalia o chef-assistente do curso da Anhembi Morumbi, Lúcio Mauro de Oliveira.
Para estudantes e profissionais, tanto a
teoria quanto a prática são essenciais.
Lucas viu os dois lados da moeda: antes
de começar o curso, trabalhou como ajudante de chef em um restaurante de São
Paulo. "Eu não tinha a menor noção. Aí
vi como funciona uma cozinha de verdade. Nas aulas, a gente conhece o que vai
usar depois. Sempre que aprendo algo, já
coloco em prática ao chegar em casa."
A estudante Marcela Jatene Bosisio, 18,
que cursa gastronomia na UniFMU,
sempre preferiu a prática à teoria. Vinda
de família de médicos, desde criança
pensava em estudar medicina. Depois,
começou a fazer nutrição com o objetivo
de atuar em gastronomia, mas não gostou do curso. "Era muito técnico."
Ao mesmo tempo em que fazia a faculdade, Marcela colocou a mão na massa:
abriu com uma amiga uma empresa que
produz docinhos e minibolos por encomenda. "Aí percebi que estava perdendo
tempo estudando para provas e deixando de me aperfeiçoar no trabalho."
Fernando Rabello, 28, não estudou
gastronomia, mas já é chef de cozinha de
um bar tailandês em Florianópolis. Começou a atuar na área com 23 anos. Formado em turismo, foi morar na Austrália em 1999. Lá, trabalhou em um restaurante e numa pizzaria. "Comecei lavando louça e cheguei a assistente de chef."
Para ele, a teoria não faz falta. "É lógico
que existem alguns problemas, como
controle de estoque, utilização dos alimentos e das ferramentas de cozinha.
Sem teoria, demora mais para aprender,
mas sempre há alguém que ensina."
Um chef recém-formado ganha de R$
800 a R$ 5.000, segundo profissionais do
mercado. Já um chef renomado pode ganhar de R$ 15 mil a R$ 20 mil.
Apesar de oferecer boa remuneração, o
investimento é pesado. O curso da
Anhembi Morumbi, por exemplo, custa
cerca de R$ 1.000 por mês. Isso sem falar
nos gastos com instrumentos e aventais.
Mas os atrativos também são muitos, e
o ambiente de trabalho é um deles. "É o
que eu quero fazer na vida. Não ia ser feliz de terno", diz o estudante Fernão Kastrup Prates, 15, que já fez dois cursos rápidos de gastronomia. "Eu fui há algum
tempo às cozinhas do Hotel Fasano e
achei o astral muito legal. As pessoas
brincam enquanto trabalham."
Tão novo quanto ele, Tito Paolone, 15,
também se sente atraído pela descontração da cozinha. "Acho divertido, me anima." Ele aprendeu a cozinhar com a avó quando tinha seis anos. Nunca mais parou. Um número cada vez maior de jovens começa cedo como eles. E cada vez menos são só as meninas que brincam de
cozinha.
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