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Restaurante-escola coloca um novo ingrediente na receita
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Como surge um grande cozinheiro? E
um maître ou um garçom que fazem a
fama do restaurante em que trabalham?
Muita gente dirá que são talentos naturais, que aparecem espontaneamente.
Contudo quem conhece a dinâmica de
um restaurante sabe que o único jeito de
formar um bom profissional é unir a teoria à prática -uma receita nada inovadora, que pode ser considerada o ovo frito das escolas de gastronomia e hotelaria.
Com um ingrediente a mais -a responsabilidade social- essa receita pode
tornar-se, sim, uma grande novidade.
Esse tempero está presente no Restaurante-Escola São Paulo, onde 50 jovens
que vêm de famílias de baixa renda
aprendem, num curso de cinco meses, os
segredos do trabalho em um restaurante.
Durante o curso, garotos e garotas que
participam do projeto se revezam em diferentes funções: montam e servem as
mesas, recepcionam clientes, trabalham
no bar e na cozinha. Só que, além de professores, quem avalia a qualidade do trabalho deles são clientes de verdade.
Para dar conta do recado, a rotina dos
garotos começa bem antes da hora do almoço. "O curso começa às 8h. Eles se dividem em grupos. Enquanto um grupo
tem aulas teóricas, dadas por professores
do curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi, outros já começam a trabalhar na cozinha, preparando
o pão e os alimentos para o almoço",
conta Ana Maria Rosé, presidente da
Fundação Jovem Profissional (ex-Fundação Casa do Pequeno Trabalhador),
responsável pelo projeto do curso.
A maior parte dos jovens que compõem a primeira turma do projeto fez
outros cursos oferecidos pela fundação.
"Fiz primeiro o curso de auxiliar de escritório. Acho importante porque eu
aprendo uma outra profissão", diz Reinaldo de Souza, 19, que quer ser garçom.
O objetivo de Bárbara Oliveira, 17, é
trabalhar na cozinha. "Gosto de mexer
com alimentação e quero fazer faculdade
de nutrição", diz.
Segundo o chef Volmar Zocche, 33,
responsável pela cozinha do restaurante,
a formação que os jovens recebem reverte para a vida deles. "Quando eles chegaram, a maior parte não sabia nem o que
era rúcula. Hoje, eles conhecem os alimentos e alguns já fazem o pão e a massa
do macarrão sozinhos", conta.
"Aprendi a preparar pratos que eu
nem conhecia. Hoje já dá para fazer um
risoto ou um rigatone em casa", diz Luciano Gonzaga, 17.
Nem todos vão se tornar futuros garçons, maîtres ou cozinheiros, embora
muitos reconheçam que essa formação
pode abrir portas no mercado de trabalho. "Fiz um curso de serigrafia na fundação e gosto de desenhar, mas é mais fácil conseguir trabalho num restaurante",
diz Ezequiel Henrique da Silva, 17.
Essa esperança de conseguir emprego
depois do curso não é disparatada. Segundo Zocche, muitos restaurantes, bares e hotéis já o procuraram para tentar
contratar os garotos. "Mas aqui é uma
escola, só vou liberar os garotos no fim
do curso. Quando eles estiverem bem
treinados, faremos um almoço especial
só para donos de restaurantes", diz.
Para o coordenador do restaurante,
Frederico Gueisbuhler, os jovens ainda
têm muito o que aprender. "Fizemos um
convênio com a Aliança Francesa para
dar a eles um curso de francês voltado
para a gastronomia e teremos cursos especiais de vinho, de sorvete e de uso de
materiais ecologicamente corretos", diz.
Segundo Gueisbuhler, em breve devem
ocorrer duas modificações: a redução do
tempo do curso para quatro meses e a
abertura do restaurante para a "happy
hour", um pedido dos freqüentadores.
As inscrições para as próximas turmas
começam em maio e podem ser feitas na
Fundação Jovem Trabalhador. Informações pelo telefone 0/xx/11/3241-5580.
O Restaurante-Escola São Paulo é uma
parceria da Prefeitura de São Paulo com
a Câmara Municipal de São Paulo, com a
Fundação Jovem Profissional e com as
prefeituras de Genebra (Suíça) e Lyon
(França), que destinaram ao projeto recursos do Fundo Internacional de Solidariedade de Cidades Contra a Pobreza.
RESTAURANTE-ESCOLA SÃO PAULO
Onde: esplanada da Câmara Municipal de
São Paulo (viaduto Jacareí, 100, Centro), de
segunda a sexta, das 12h às 16h
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