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O batismo da geologia feito com pinga e tintas

LUCIA RODRIGUES GONÇALVES
free-lance para a Folha

Induzir o calouro a se entupir de pinga, a rolar na lama ou a se empanturrar de salsicha são algumas das idéias esdrúxulas dos veteranos para comemorar a chegada dos aprovados no vestibular. Mas talvez mais esquisita ainda seja a receptividade dos calouros.
Na última segunda-feira, os calouros de geologia da USP (Universidade de São Paulo) passaram por um trote que teve como saldo cinco "bichos" internados no HU (Hospital Universitário) por excesso de álcool. Douglas Tatsuya Komati, 18, chegou ao hospital desacordado. No dia seguinte, disse que não achou o trote violento e que só passou mal porque não havia comido nada e porque não está habituado a tomar pinga.
"Mi Lâmbi" ou "Mi Xupa" são alguns dos apelidos que calouros e calouras recebem no tal "batismo" do primeiro dia de aula na geologia da USP. Vestem sacos de estopa, ajoelham-se na frente dos veteranos e recebem pinga na cabeça -para selar o batismo-, com uma placa pendurada no pescoço com o devido apelido.
O presidente do centro acadêmico, Rafael Hernandes (seu apelido é Atum), 24, diz que a idéia dos apelidos vem de uma tradição, da época da ditadura, quando os estudantes adotavam codinomes para driblar a repressão.
Integração ou humilhação?

A maioria dos calouros entrevistados diz que o trote serve para integrar veteranos e calouros. Ana Clara Giannecchini, 17, caloura da arquitetura da USP, que participou da prova do verde na gincana, diz: "Pintam a tua cara, e você tem de se esfregar toda. Acho que integra de um jeito legal".
"A corrida foi mais difícil. Tomar pinga às 9h não é fácil. Fiquei correndo com a pinga na boca, e os veteranos diziam: "tem de engolir, tem de engolir'. Fiquei com a boca queimando", contou Cristina Paiva, 18, da arquitetura.
O Diretório Central dos Estudantes da USP é contrário ao trote violento. E acredita que os calouros possam ser integrados de maneira civilizada. Programou shows, arrecadação de alimentos e debates.



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