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Chato na rua, mas não na faculdade
free-lance para a Folha
Nas últimas semanas, as esquinas de São Paulo foram tomadas
por pedintes caras-pintadas. A diferença entre esses e os meninos
de rua está no destino do dinheiro
que arrecadam. No caso dos calouros, vai ser torrado em cerveja.
"Não sei o que acontece com o
dinheiro que a gente pega. Acho
que os veteranos vão para o bar tomar cerveja. Ainda não sei se vou
ser convidado", diz Eduardo
Gioeli Micheletto Joel, 17, calouro
do curso de jornalismo da Fiam.
Durante a primeira semana de
aula, os novos estudantes são
proibidos de entrar na faculdade
para fazer papel de palhaço nas
ruas da cidade. "Tive de dançar a
dança da vassoura para ganhar R$
0,20", conta Caroline Bedolacini
Lopes, 19, que veio de Bauru (interior de SP) para cursar turismo na
faculdade Anhembi Morumbi. "Se
não quisesse participar, não teria
ido à aula. Além disso, quem não
participa fica com fama de chato",
diz ela.
Mas parece ser melhor ter "fama
de chato" na rua do que na faculdade. "Muitos motoristas tratam a
gente mal. Não abrem o vidro ou
avançam com o carro enquanto a
gente pede o dinheiro", conta Carolina Pinto Alves de Souza, 18,
caloura do curso de administração
da FMU, que passou três horas
plantada na esquina da r. Dr. Mário Ferraz com a av. Cidade Jardim. "Acho mancada porque os
veteranos vão ficar com o dinheiro. Mas não me sinto humilhada.
Estou orgulhosa de entrar na faculdade. O trote é uma tradição".
Carolina divide a opinião com o
também calouro e colega de classe
Rodrigo Belvisi, 18. "Acho que faz
parte da faculdade. Se não tivesse
trote, não teria graça."
Rodrigo, que vai ter seus estudos
bancados pelo pai, não dá dinheiro para meninos de rua quando é
abordado. "Daria para os bichos,
mas não para as crianças. A obrigação é dos pais, não minha."
(LF)
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