São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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Chato na rua, mas não na faculdade

free-lance para a Folha

Nas últimas semanas, as esquinas de São Paulo foram tomadas por pedintes caras-pintadas. A diferença entre esses e os meninos de rua está no destino do dinheiro que arrecadam. No caso dos calouros, vai ser torrado em cerveja.
"Não sei o que acontece com o dinheiro que a gente pega. Acho que os veteranos vão para o bar tomar cerveja. Ainda não sei se vou ser convidado", diz Eduardo Gioeli Micheletto Joel, 17, calouro do curso de jornalismo da Fiam.
Durante a primeira semana de aula, os novos estudantes são proibidos de entrar na faculdade para fazer papel de palhaço nas ruas da cidade. "Tive de dançar a dança da vassoura para ganhar R$ 0,20", conta Caroline Bedolacini Lopes, 19, que veio de Bauru (interior de SP) para cursar turismo na faculdade Anhembi Morumbi. "Se não quisesse participar, não teria ido à aula. Além disso, quem não participa fica com fama de chato", diz ela.
Mas parece ser melhor ter "fama de chato" na rua do que na faculdade. "Muitos motoristas tratam a gente mal. Não abrem o vidro ou avançam com o carro enquanto a gente pede o dinheiro", conta Carolina Pinto Alves de Souza, 18, caloura do curso de administração da FMU, que passou três horas plantada na esquina da r. Dr. Mário Ferraz com a av. Cidade Jardim. "Acho mancada porque os veteranos vão ficar com o dinheiro. Mas não me sinto humilhada. Estou orgulhosa de entrar na faculdade. O trote é uma tradição".
Carolina divide a opinião com o também calouro e colega de classe Rodrigo Belvisi, 18. "Acho que faz parte da faculdade. Se não tivesse trote, não teria graça."
Rodrigo, que vai ter seus estudos bancados pelo pai, não dá dinheiro para meninos de rua quando é abordado. "Daria para os bichos, mas não para as crianças. A obrigação é dos pais, não minha." (LF)



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