São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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Favela é centro de atividades culturais

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Ana Estrella, 14, que frequenta a Monte Azul há um ano


SILVIA RUIZ
da Reportagem Local

"Monte Azul ist super!". Tradução: Monte Azul é super. A frase em alemão, escrita num muro colorido na entrada da favela, anuncia que algo muito diferente rola lá dentro.
Num clima que lembra um pouco o das comunidades alternativas dos anos 70, jovens circulam pelas vielas cantando músicas do Caetano. Em uma escadaria, próxima a um córrego, uma turma conversa sobre a performance de dança e sobre a leitura de poemas que acontecem nos fins-de-semana. Em um galpão, alguns garotos pintam um móvel antigo com desenhos coloridos.
Graças à iniciativa de uma educadora alemã, que há quase 20 anos fundou uma associação comunitária na favela, boa parte dos jovens da Monte Azul (zona sul de São Paulo) pôde escapar do estigma de ser um "garoto carente" para ser o que se costuma chamar de "jovem cabeça".
Gilson Marçal, 18, o Gil, é um exemplo. Filho de uma ex-empregada doméstica e de um pai que mal conheceu, ele nasceu na favela e foi um dos primeiros alunos da escola montada pela alemã Ute Craemer. Cursa hoje o 3º colegial e pretende ser psicólogo ou jornalista. Além disso, toca flauta, faz teatro, dança e escreve poemas . Adora a escritora Clarice Lispector, o poeta Fernando Pessoa e a revista "Caros Amigos".
"Eu me desenvolvi dentro da associação porque encontrei pessoas que me ensinaram a valorizar minhas habilidades, que me ensinaram a apreciar a cultura", diz Gil.
Ute, que morava perto da favela, começou um trabalho com as crianças baseado na pedagogia Waldorf, do filósofo alemão Rudolf Steiner (1861-1925), que visa o desenvolvimento físico, social e individual das crianças.
Assim, desde pequenos, vários meninos e meninas da favela, que em geral nem iriam à escola, foram educados com aulas de artes, música, teatro e dança.
Hoje, além dos moradores, a Monte Azul reúne garotos dos bairros vizinhos e até de fora do país, que participam de oficinas de reciclagem de papel, móveis e culturais. Conheça alguns deles nesta página.


Para quem quiser conhecer: r. Vitalina Grasmann, 290, Santo Amaro, tel. (011) 524-2826



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