São Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009

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Para gostar de ler

Apaixonado por livros, o imortal José Mindlin lança obra para espalhar sua paixão entre os novos leitores

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

José Mindlin, 94, é formado em direito pela USP, já foi empresário, advogado, repórter e secretário estadual de cultura em São Paulo. No entanto, o que o tornou conhecido não foi o exercício de nenhuma dessas atividades, mas seu vício por livros, ao qual ele se refere como uma "loucura mansa". Em sua nova obra, "No Mundo dos Livros" (ed. Agir, 104 págs., R$ 30), Mindlin fala de seus autores favoritos, da revolução causada pelo surgimento da imprensa e do consequente aumento do acesso à leitura no século 15. Também explica como começou a formar sua biblioteca pessoal, aos 13 anos -hoje, ela tem aproximadamente 38 mil volumes. Imortal (como são conhecidos os membros da Academia Brasileira de Letras), o bibliófilo diz que seu objetivo com o novo livro é "infectar as pessoas com o vírus da bibliofilia". Ele não acredita que existam pessoas que não gostem de ler: "Certamente não foram devidamente estimuladas".

 

FOLHA - Quem começa lendo "Harry Potter" chegará a Machado de Assis? Os quadrinhos e best-sellers são boa porta de entrada?
JOSÉ MINDLIN - Acho que uma coisa não tem relação direta com outra. Conheço muitos jovens que leram "Harry Potter" sem que isso tivesse prejudicado outras leituras, inclusive a de Machado de Assis. A leitura é um processo automultiplicador, não existem regras rígidas para desenvolver o hábito.

FOLHA - Quem fez o sr. se interessar pela leitura?
MINDLIN - Cresci num ambiente em que a leitura fazia parte da vida de meus pais, da minha e da de meus irmãos. A leitura deve ser introduzida desde a infância. Não creio que haja regras para estimular a leitura, mas com certeza o hábito é uma força poderosa.

FOLHA - Qual foi o livro mais importante da sua adolescência?
MINDLIN - Minha adolescência ocupou leituras as mais variadas. Por volta dos 12 anos, li obras de Júlio Verne com muito interesse. Confesso, no entanto, que pulei descrições muito prolongadas. Sempre gostei de contos, especialmente de Machado de Assis e de Artur Azevedo, mas procuro sempre textos novos.

FOLHA - O sr. acredita que o jovem lê menos hoje? A internet está prejudicando a leitura de livros?
MINDLIN - Não creio que seja possível ou fácil generalizar a leitura dos jovens. Muita coisa é lida e, nas livrarias, a quantidade de livros para jovens não é pequena. Quanto à internet, acho que são processos paralelos, tenho a impressão de que a leitura do livro ainda conserva seu lugar.

FOLHA - Como é possível inspirar nos jovens a paixão pela leitura, num universo que é dominado pela internet, pela TV e pelo cinema?
MINDLIN - Acredito, novamente, que são processos paralelos, e não acho que existam regras rígidas para desenvolver o hábito da leitura na vida doméstica. Uma forma óbvia é o exemplo, mas não é a única. Costumo dizer que apontar um livro sem insistir em que seja lido pode até ser um incentivo eficiente.

FOLHA - O sr. conhece aparelhos de leitura digital, como o Kindle, que procuram ser alternativas ao papel?
MINDLIN - Não tenho experiência com esses aparelhos, mas também não tenho uma posição dogmática de que o conhecimento de um texto por meios não habituais seja necessariamente negativo.


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