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livros
Para gostar de ler
Apaixonado por livros, o imortal José Mindlin lança obra para espalhar sua paixão entre os novos leitores
JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
José Mindlin, 94, é formado em direito pela
USP, já foi empresário, advogado, repórter e secretário estadual de cultura em São Paulo.
No entanto, o que o tornou
conhecido não foi o exercício
de nenhuma dessas atividades,
mas seu vício por livros, ao qual
ele se refere como uma "loucura mansa".
Em sua nova obra, "No Mundo dos Livros" (ed. Agir, 104
págs., R$ 30), Mindlin fala de
seus autores favoritos, da revolução causada pelo surgimento
da imprensa e do consequente
aumento do acesso à leitura no
século 15. Também explica como começou a formar sua biblioteca pessoal, aos 13 anos
-hoje, ela tem aproximadamente 38 mil volumes.
Imortal (como são conhecidos os membros da Academia
Brasileira de Letras), o bibliófilo diz que seu objetivo com o
novo livro é "infectar as pessoas
com o vírus da bibliofilia".
Ele não acredita que existam
pessoas que não gostem de ler:
"Certamente não foram devidamente estimuladas".
FOLHA - Quem começa lendo
"Harry Potter" chegará a Machado
de Assis? Os quadrinhos e best-sellers são boa porta de entrada?
JOSÉ MINDLIN - Acho que uma
coisa não tem relação direta
com outra. Conheço muitos jovens que leram "Harry Potter"
sem que isso tivesse prejudicado outras leituras, inclusive a
de Machado de Assis. A leitura
é um processo automultiplicador, não existem regras rígidas
para desenvolver o hábito.
FOLHA - Quem fez o sr. se interessar pela leitura?
MINDLIN - Cresci num ambiente em que a leitura fazia parte
da vida de meus pais, da minha
e da de meus irmãos. A leitura
deve ser introduzida desde a infância. Não creio que haja regras para estimular a leitura,
mas com certeza o hábito é uma
força poderosa.
FOLHA - Qual foi o livro mais importante da sua adolescência?
MINDLIN - Minha adolescência
ocupou leituras as mais variadas. Por volta dos 12 anos, li
obras de Júlio Verne com muito interesse. Confesso, no entanto, que pulei descrições
muito prolongadas. Sempre
gostei de contos, especialmente de Machado de Assis e de Artur Azevedo, mas procuro sempre textos novos.
FOLHA - O sr. acredita que o jovem
lê menos hoje? A internet está prejudicando a leitura de livros?
MINDLIN - Não creio que seja
possível ou fácil generalizar a
leitura dos jovens. Muita coisa
é lida e, nas livrarias, a quantidade de livros para jovens não é
pequena. Quanto à internet,
acho que são processos paralelos, tenho a impressão de que
a leitura do livro ainda conserva seu lugar.
FOLHA - Como é possível inspirar
nos jovens a paixão pela leitura,
num universo que é dominado pela
internet, pela TV e pelo cinema?
MINDLIN - Acredito, novamente, que são processos paralelos,
e não acho que existam regras
rígidas para desenvolver o hábito da leitura na vida doméstica. Uma forma óbvia é o exemplo, mas não é a única. Costumo dizer que apontar um livro
sem insistir em que seja lido
pode até ser um incentivo eficiente.
FOLHA - O sr. conhece aparelhos de
leitura digital, como o Kindle, que
procuram ser alternativas ao papel?
MINDLIN - Não tenho experiência com esses aparelhos, mas
também não tenho uma posição dogmática de que o conhecimento de um texto por meios
não habituais seja necessariamente negativo.
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