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Aderir ao grupo garante andar armado e exercer a força
Gangue serve de família "do mal"
DA FOLHA RIBEIRÃO
Onde vai parar essa violência? Se
você já fez essa pergunta alguma
vez na vida, a resposta que o professor de psicologia social da USP
de Ribeirão Preto Sérgio Kodato dá
não é nada animadora: "A tendência é o problema aumentar".
Estudioso sobre violência de
adolescentes, o professor afirma
que o fenômeno das gangues está
relacionado a vários fatores, que se
interligam. Entre eles, estão a falta
de perspectiva de futuro, a degradação da família, a globalização do
consumo, a sensação de impunidade e a conformidade social.
"O adolescente vive em grupos",
explica a pesquisadora da Unesco
Miriam Abramovay, que realizou,
em 1999, um estudo sobre as gangues de Brasília. O limite entre as
galeras (da escola, da rua, da praia
etc.) e as gangues é o da legalidade.
"O que atrai o jovem para uma
gangue é o imaginário de poder.
Eles entram para andar armados,
para serem respeitados, para serem considerados e para fazer sucesso com as meninas. Consideram a gangue uma família, o que
traz uma sensação de pertencimento e de conforto a eles."
Segundo ela, muita gangue começa como de pichadores e termina cometendo atos criminosos.
Desde os anos 20, nos EUA, há
estudos sobre a disputa de gangues
de imigrantes por poder através do
controle de certas áreas das cidades
americanas. A divisão do território
sempre foi uma marca no comportamento das gangues, além do código de valores, das formas de se
vestir e dos rituais de batismo.
A combinação desses elementos
e a sensação de poder que o grupo
e a arma trazem confere ao jovem
de gangue uma arrogância que faz
com que um olhar enviesado, uma
encarada ou um passeio pelo território inimigo seja motivo para a
briga e, no limite, para a morte.
"Sempre houve briga entre grupos de jovens. A diferença fundamental hoje é a arma, que faz com
que esses meninos se sintam mais
poderosos. É a banalização do que
significa andar armado", explica
Abramovay que, em outro estudo,
sobre violência nas escolas, apontou que, em 14 capitais brasileira,
de 2% a 7% dos alunos têm ou já tiveram arma de fogo e de 5% a 14%
sabem onde comprar arma.
Punição
As práticas criminosas de gangues de adolescentes, segundo Kodato, ganham força na sensação da
impunidade pelas leis específicas
aos jovens e, também, pelo "afrouxamento do aparato policial".
Na contramão estão informações
colhidas na pesquisa da Unesco feita por Abramovay. Ali, jovens que
não se consideravam membros de
gangues reclamavam que o termo
lhes era atribuído pela polícia e pela
mídia. Bastava andarem em pares,
vestirem bonés, bermudas e blusões largos para serem abordados
por policiais de Brasília e tratados
como criminosos.
Colaborou FERNANDA MENA, da Reportagem Local
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